terça-feira, 13 de maio de 2014

Gol contra


             Trinta dias da Copa do Mundo no Brasil e sinto crescer em mim um grande constrangimento. Nada a ver com futebol, porque se é uma coisa que não entendo e gosto muito pouco, é esse esporte. Para falar a verdade, me serve de sonífero natural. Tenho um time do coração, acho bacana que ele ganhe, mas não sei um só nome de jogador e muito menos sei a quantas ele anda no campeonato nacional, se é que ele anda. Ou melhor, joga. Mas, como boa patriota, gritar um gol verde e amarelo é bem legal! Encher a casa de amigos em dia de jogo da seleção é animação total! Isso eu adoro! Já declarei que sou do social, sempre! O meu mal estar é imaginar os gringos que virão para a Copa se deparar com o festejado jeitinho brasileiro.
Tem me irritado muito a falta de civilidade, respeito ao próximo, cidadania e vergonha na cara disfarçados de astúcia. Já tem alguns anos que temos cultivado o poder de passar a perna nos outros, de achar que temos jogo de cintura, que podemos sair de qualquer situação e nos darmos bem. O fim justificando o meio. E esse meio é bem complicado, constrangedor. Vai de roubar as doações de uma campanha social ou uma simples reserva de restaurante. Jeitinho é na verdade falta de honestidade. Tá beirando marginalidade.
Outro dia mesmo, um grupo de compatriotas roubou meu nome e na maior cara de pau pegou minha mesa de jantar. A hostess perguntou se era a reserva da fulana. No caso, eu. E eles disseram que sim e por uma infeliz coincidência, tinham o mesmo número de amigos que eu. Moral da história: se passaram por mim, pegaram minha mesa e meu grupo teve de esperar mais de quinze minutos!! Por quê? Pra que? Para mostrarem que são espertos? Foram inteligentes? Não, foram no mínimo muito mal educados.
Quem sabe deixamos de ser esse país que ama o jeitinho? Qual a vantagem de passar recibo de malandragem ou falsos espertos? Vamos pular essa parte? Dar um passo à frente ou um degrau acima? Temos feito de tudo para sair ganhando, à custa dos outros, ludibriando e estampando um sorriso cínico com cara de sonsos. É feio ser assim. É feio não podermos transmitir confiança a nosso vizinho. É horrível estacionar seu carro na vaga de idosos ou de deficientes, mesmo com a desculpa de ser rapidinho. Rapidinho é o rosto vermelho que você vai ficar se seu filho te perguntar o porquê deste gesto! Agora explica, vai!
             As pessoas nunca pensam nos exemplos? Temos o dever de melhorar como pessoas e como nação, então, nem se fala! Me preocupa a educação das crianças. Nós reverberamos estes maus hábitos sem parar. E assim vamos garantindo pelo menos mais uma geração de gersinhos! Precisamos dar um basta nestas posturas, nos despirmos das práticas ditas espertas. Muitas vezes nossa conduta é imoral, somos tratantes flertando com a safadeza. Quantas vezes eu vi a placa de proibido ser ignorada! Mas aí vêm as famosas gauchadas, baianadas, goianadas e por aí vai. Dando nome e sobrenome ao modus operandi. Oficializando o incorreto. Pois o meu modus vivendi não aguenta mais!

                Imagina quanto será a proporção de estrangeiros enganados e iludidos nesta Copa. Ontem mesmo já li sobre denúncias de fraude na venda de ingressos. Que vergonha! Não estou nem um pouco preocupada com a situação dos transportes, da mobilidade, dos estádios e suas estruturas. Na hora da festa, do gol, da união e dos hinos nacionais, ninguém vai lembrar se a descarga dos banheiros não funciona ou se não tem metrô na cidade. O que dá medo é pensar na propaganda negativa sobre o caráter do nosso povo. E pior ainda, com toda a razão.

2 comentários:

  1. Como sempre mas um assunto polêmico, vamos sonhar que isso tudo vai mudar Kkkkk, sonhar ainda não paga. Um beijo Giovana.

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  2. Hoje presenciei um fato muito triste, uma pessoa , um cidadão brasileiro, com muita dor , passando mal, com seus exames na mão, feitos a duras penas, praticamente "jogado" as margens de uma rodovia, implorando por um socorro. Essa é a realidade bem próxima , muito próxima . Ele está interessado em FUTEBOL? Nem eu. E ainda bem que nem você. Doroty.

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