Trinta dias da Copa do Mundo no
Brasil e sinto crescer em mim um grande constrangimento. Nada a ver com
futebol, porque se é uma coisa que não entendo e gosto muito pouco, é esse
esporte. Para falar a verdade, me serve de sonífero natural. Tenho um time do
coração, acho bacana que ele ganhe, mas não sei um só nome de jogador e muito
menos sei a quantas ele anda no campeonato nacional, se é que ele anda. Ou
melhor, joga. Mas, como boa patriota, gritar um gol verde e amarelo é bem
legal! Encher a casa de amigos em dia de jogo da seleção é animação total! Isso
eu adoro! Já declarei que sou do social, sempre! O meu mal estar é imaginar os
gringos que virão para a Copa se deparar com o festejado jeitinho brasileiro.
Tem me
irritado muito a falta de civilidade, respeito ao próximo, cidadania e vergonha
na cara disfarçados de astúcia. Já tem alguns anos que temos cultivado o poder
de passar a perna nos outros, de achar que temos jogo de cintura, que podemos sair
de qualquer situação e nos darmos bem. O fim justificando o meio. E esse meio é
bem complicado, constrangedor. Vai de roubar as doações de uma campanha social
ou uma simples reserva de restaurante. Jeitinho é na verdade falta de honestidade.
Tá beirando marginalidade.
Outro dia
mesmo, um grupo de compatriotas roubou meu nome e na maior cara de pau pegou
minha mesa de jantar. A hostess perguntou se era a reserva da fulana. No
caso, eu. E eles disseram que sim e por uma infeliz coincidência, tinham o
mesmo número de amigos que eu. Moral da história: se passaram por mim, pegaram
minha mesa e meu grupo teve de esperar mais de quinze minutos!! Por quê? Pra
que? Para mostrarem que são espertos? Foram inteligentes? Não, foram no mínimo
muito mal educados.
Quem sabe
deixamos de ser esse país que ama o jeitinho? Qual a vantagem de passar recibo
de malandragem ou falsos espertos? Vamos pular essa parte? Dar um passo à
frente ou um degrau acima? Temos feito de tudo para sair ganhando, à custa dos
outros, ludibriando e estampando um sorriso cínico com cara de sonsos. É feio
ser assim. É feio não podermos transmitir confiança a nosso vizinho. É horrível
estacionar seu carro na vaga de idosos ou de deficientes, mesmo com a desculpa
de ser rapidinho. Rapidinho é o rosto vermelho que você vai ficar se seu filho
te perguntar o porquê deste gesto! Agora explica, vai!
As pessoas
nunca pensam nos exemplos? Temos o dever de melhorar como pessoas e como nação,
então, nem se fala! Me preocupa a educação das crianças. Nós reverberamos estes
maus hábitos sem parar. E assim vamos garantindo pelo menos mais uma geração
de gersinhos! Precisamos dar um basta nestas posturas, nos despirmos das
práticas ditas espertas. Muitas vezes nossa conduta é imoral, somos tratantes flertando com a
safadeza. Quantas vezes eu vi a placa de proibido ser ignorada! Mas aí vêm as
famosas gauchadas, baianadas, goianadas e por aí vai. Dando nome e sobrenome ao
modus operandi. Oficializando o incorreto. Pois o meu modus vivendi não aguenta mais!
Imagina
quanto será a proporção de estrangeiros enganados e iludidos nesta Copa. Ontem
mesmo já li sobre denúncias de fraude na venda de ingressos. Que vergonha! Não estou nem
um pouco preocupada com a situação dos transportes, da mobilidade, dos estádios
e suas estruturas. Na hora da festa, do gol, da união e dos hinos nacionais,
ninguém vai lembrar se a descarga dos banheiros não funciona ou se não tem
metrô na cidade. O que dá medo é pensar na propaganda negativa sobre o caráter
do nosso povo. E pior ainda, com toda a razão.
Como sempre mas um assunto polêmico, vamos sonhar que isso tudo vai mudar Kkkkk, sonhar ainda não paga. Um beijo Giovana.
ResponderExcluirHoje presenciei um fato muito triste, uma pessoa , um cidadão brasileiro, com muita dor , passando mal, com seus exames na mão, feitos a duras penas, praticamente "jogado" as margens de uma rodovia, implorando por um socorro. Essa é a realidade bem próxima , muito próxima . Ele está interessado em FUTEBOL? Nem eu. E ainda bem que nem você. Doroty.
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