terça-feira, 27 de maio de 2014

Miau


Outro dia rezei para virar uma vaca, o animal, é claro, e agora acho que estou me transformando mesmo é num gato. Ou os céus não me ouviram direito ou não me expressei com clareza. Pensando bem, pode ser um castigo divino também. O fato é que o tamanho da minha preguiça justifica minha nova condição: um felino.
Toda trabalhada na preguiça não posso mais nem ouvir pessoas reclamando de nada. Gente que tá gozando de boa saúde, que tem duas pernas e espantem-se (!!!) dois braços, esbravejando e vociferando contra o mundo me dá muito sono atualmente.
Preguiça do povo mal humorado também. Carranca, cara feia, cara fechada, e qualquer outro sinônimo, pra mim é fome! Vá se alimentar, camarada! Adoro sorriso de gente que leva a vida na leveza e paz. Eu falei paz, não flauta, tá? Essas pessoas mal humoradas brigam muito, implicam muito e nunca pedem desculpas, porque sempre se acham certos. Aliás, também tenho preguiça de quem sempre é dono da razão. Vou te contar uma coisa: a razão não tem dono. Que tal crescer e mudar de ideia? Respeitar a opinião do outro? Que maravilha é o mundo em que podemos mudar nosso posicionamento. E acredite isso é possível. Me parece que se chama amadurecer.
Preguiça de gente que tem o wifi no negativo e tudo, eu disse tudo, acontece com elas! De chuva no sertão nordestino a calorão na Sibéria! Cansei do pessimismo, da energia ruim e dos vodus! Sai fora nuvenzinha negra!
Também estou com muita preguiça de gente preconceituosa, que ainda não aceita as minorias, sejam elas quais forem. Não somos superiores a ninguém. Ser diferente é que é normal. E graças a Deus não somos iguais! Cá prá nós, tem pessoas que se fossem duplicadas o mundo não suportaria. Preguiça de falta de respeito. Falta de cidadania. Falta de civilidade e de educação.
Preguiça tremenda de abrir o jornal e ler notícias sobre escândalos políticos, propinas, desemprego, inflação e alta do dólar! Que país é esse santo renato russo? Vamos ou não aprender a votar? Esse é o ano, hein!
Preguiça, preguiça. Muita preguiça de alguns verbos também: aparentar, ter, julgar, gastar, aparecer, exibir, excluir, nossa são tantos. Não to aguentando mais adaptar minha conversa em grupos que incrivelmente falam nossa língua, mas o assunto deve ser de outro planeta! Quase posso apostar!!
Preguiça de gente que não reconhece que a amizade é sempre de mão dupla. Entregar-se, estar disponível, ser amável, solidário e solícito é um exercício permanente dos que são amigos. O resto é egoísmo.
E tem mais: essa crônica tá me dando muita preguiça também! Com licença que a Bela vai dormir. E atenção, se esse mundo não melhorar, não me acorde! Nos vemos na próxima encarnação! E tenho dito!

 

 

terça-feira, 13 de maio de 2014

Gol contra


             Trinta dias da Copa do Mundo no Brasil e sinto crescer em mim um grande constrangimento. Nada a ver com futebol, porque se é uma coisa que não entendo e gosto muito pouco, é esse esporte. Para falar a verdade, me serve de sonífero natural. Tenho um time do coração, acho bacana que ele ganhe, mas não sei um só nome de jogador e muito menos sei a quantas ele anda no campeonato nacional, se é que ele anda. Ou melhor, joga. Mas, como boa patriota, gritar um gol verde e amarelo é bem legal! Encher a casa de amigos em dia de jogo da seleção é animação total! Isso eu adoro! Já declarei que sou do social, sempre! O meu mal estar é imaginar os gringos que virão para a Copa se deparar com o festejado jeitinho brasileiro.
Tem me irritado muito a falta de civilidade, respeito ao próximo, cidadania e vergonha na cara disfarçados de astúcia. Já tem alguns anos que temos cultivado o poder de passar a perna nos outros, de achar que temos jogo de cintura, que podemos sair de qualquer situação e nos darmos bem. O fim justificando o meio. E esse meio é bem complicado, constrangedor. Vai de roubar as doações de uma campanha social ou uma simples reserva de restaurante. Jeitinho é na verdade falta de honestidade. Tá beirando marginalidade.
Outro dia mesmo, um grupo de compatriotas roubou meu nome e na maior cara de pau pegou minha mesa de jantar. A hostess perguntou se era a reserva da fulana. No caso, eu. E eles disseram que sim e por uma infeliz coincidência, tinham o mesmo número de amigos que eu. Moral da história: se passaram por mim, pegaram minha mesa e meu grupo teve de esperar mais de quinze minutos!! Por quê? Pra que? Para mostrarem que são espertos? Foram inteligentes? Não, foram no mínimo muito mal educados.
Quem sabe deixamos de ser esse país que ama o jeitinho? Qual a vantagem de passar recibo de malandragem ou falsos espertos? Vamos pular essa parte? Dar um passo à frente ou um degrau acima? Temos feito de tudo para sair ganhando, à custa dos outros, ludibriando e estampando um sorriso cínico com cara de sonsos. É feio ser assim. É feio não podermos transmitir confiança a nosso vizinho. É horrível estacionar seu carro na vaga de idosos ou de deficientes, mesmo com a desculpa de ser rapidinho. Rapidinho é o rosto vermelho que você vai ficar se seu filho te perguntar o porquê deste gesto! Agora explica, vai!
             As pessoas nunca pensam nos exemplos? Temos o dever de melhorar como pessoas e como nação, então, nem se fala! Me preocupa a educação das crianças. Nós reverberamos estes maus hábitos sem parar. E assim vamos garantindo pelo menos mais uma geração de gersinhos! Precisamos dar um basta nestas posturas, nos despirmos das práticas ditas espertas. Muitas vezes nossa conduta é imoral, somos tratantes flertando com a safadeza. Quantas vezes eu vi a placa de proibido ser ignorada! Mas aí vêm as famosas gauchadas, baianadas, goianadas e por aí vai. Dando nome e sobrenome ao modus operandi. Oficializando o incorreto. Pois o meu modus vivendi não aguenta mais!

                Imagina quanto será a proporção de estrangeiros enganados e iludidos nesta Copa. Ontem mesmo já li sobre denúncias de fraude na venda de ingressos. Que vergonha! Não estou nem um pouco preocupada com a situação dos transportes, da mobilidade, dos estádios e suas estruturas. Na hora da festa, do gol, da união e dos hinos nacionais, ninguém vai lembrar se a descarga dos banheiros não funciona ou se não tem metrô na cidade. O que dá medo é pensar na propaganda negativa sobre o caráter do nosso povo. E pior ainda, com toda a razão.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Noite de mãe


Não sou boêmia, mas às vezes minha noite de mãe é animada como noitada. Se não fosse o fato de não ter música, povo e bebidinhas, eu diria que é praticamente uma balada. Balada abalada da mãe solitária. Difícil dormir cedo. Às vezes é até difícil dormir! É um tal de deita e levanta que facilmente poderia ser uma modalidade de academia. Pena os glúteos e as coxas não terem percebido essa série de três ou quatro e continuarem em queda brusca...
E começa a madrugada, noite escura e silenciosa. Você ainda está naquele estágio do sono em que é a Cleópatra. Cheia de súditos construindo uma imensa pirâmide, que ao invés de ser o mausoléu dos mortos será um suntuoso palácio só para você. Banho de leite de rosas, bajulação e riqueza! Um banquete daqueles de lamber os beiços. Sem figos, por favor, odeio figos. O sonho está perfeito! Um dia no Egito! Aí o Martin Luther King Jr, de pijamas cor de rosa, carinha amassada, cabelos louros descabelados e os olhinhos praticamente fechados, bate no seu ombro com aquele velho discurso.
Como na escadaria do Memorial Lincoln diz: Mamãe, I have a dream, quer dizer, eu tive um sonho!! Eu também filhinha, eu também!! Inclusive, eu estava num. No mesmo segundo meu Egito se esvai! Acaba, puff! Aí a pirâmide desmorona de vez e a noite também! Cadê meu banquete? Meu banho especial? E assim, rápido como um cometa, do rio Nilo direto para o meio do quarto às quatro da matina (sem trocadilhos com Martina!). E a realidade se reestabelece!
Levanto a primeira vez acompanhando a criança até sua cama. Tapo, acomodo, beijinho e boa noite. Pra quem? Talvez pro vizinho que mantém a casa em silêncio absoluto e sepulcral. Porque pra mim é que não é, a noite está só começando. Volto para a cama para imediatamente receber a visita de uma pessoinha muito apertada para ir ao banheiro e precisando companhia – materna, é claro. Vamos ao banheiro, espero aquele xixizinho de dois pinguinhos, que na verdade foi só mais um motivo para ver se a mammy não fugiu naquele intervalo de tempo. Vai que, não é? Posso ter me desmaterializado ou, melhor ainda, me teletransportado para uma praia no Caribe. É sempre bom conferir se as mães realmente estão dormindo de madrugada! Fica a dica.
E continua a jornada noite adentro. Mais uma despedida longa e demorada. Mais uns três ursinhos na cama, lotação quase esgotada de tantos bichinhos de pelúcia. Sede. Água. E bora tentar dormir. Ouço mais um chamado. Dessa vez diz respeito ao clima. Preciso ir até o quarto da criatura para ligar o ar condicionado. Ao deitar, enfim, abro a porta da esperança e penso terem se esgotado todos os pedidos, quando de novo ouço passinhos.
Jesus, Maria, José! Dai-me a paciência de um monge tibetano pelamodedeus!! Silenciosa, parecendo uma gatinha sorrateira, minha doce notívaga, madrugadora e baladeira aparece só para me dar um beijinho e tocar meu rosto com sua mãozinha. Pronto, esqueço todo o sono, todo o cansaço do dia anterior e de que um dia fui Cleópatra! Sou tomada por todo amor do mundo! Aquele gesto no meio da madrugada faz tudo valer a pena! Agradeço! Agora só quero protegê-la e abraçá-la até dormir sentindo-se a criança mais segura e amada do planeta.
Profundamente apaixonada por minha cria e com medo de um novo sonho ruim, acomodo meu anjinho no meio de minha cama. Ficamos de mãos dadas até adormecermos. Momento gostoso de puro carinho e aconchego. Apertado? ÔÔÔ! Agora, no máximo o sonho será dentro de um ônibus lotado na hora do rush lá nos tempo de faculdade, atrasada e mal estudada para uma prova!! E assim, grudadinhas, terminamos a noite como numa sauna seca. Calor, suor e felicidade!
Não existe amor maior! Feliz Dia das Mães!