domingo, 24 de novembro de 2013

Contra a lógica


Existem coisas que desafiam a lógica. E tudo que não faz sentido ao mundo, faz menos ainda para mim. É como se fosse uma armadilha e mais cedo ou mais tarde, vai dar merda. Pode ser uma ode ao pessimismo, acho até que é. Mas não é a melhor maneira de definir o medo de avião?
Olha o glamour, assim não perco a pose! Antes culpar as teorias da física do que assumir que sou uma cagona e tenho pânico dos transportes aéreos! Portanto, é isso que vou fazer. Camarada, compare um pardalzinho a um jumbo! Quem você acha que pesa mais? Como pode uma coisa daquele tamanhão voar?
É uma dúvida que fica martelando todas as vezes que coloco os meus pés num aeroporto. O pior de tudo é que esta pergunta se instala na minha cabeça com vinte e quatro horas de antecedência do check in e só vai embora na sala de desembarque do meu destino! Assim que eu pego a mala, dou uma respirada tranquila, de um sentimento de alívio provavelmente comparado a achar um vaso sanitário, nos casos de extrema necessidade. Se é que você me entende... Acredite, é a mais pura verdade!
Se você reparar no resumo do “quem sou eu” deste blog, irá perceber que me defino como viajante apaixonada. Olha o drama. Amo viajar, ou seja, ir para os lugares, mas pegar o maldito avião é meu desespero! Sofro como se fosse para o Afeganistão! E posso garantir, e provar com meu passaporte, que nunca fui pra lá. Os destinos de minha família são bem bacaninhas. Mas o processo é bem doloroso para mim.
Além do fato de achar que foram os passarinhos que nasceram pra isso e não máquinas enormes, tem toda sensação claustrofóbica. Apertados naquela lata, nós, os passageiros, mal conseguimos nos mexer. Cruzar pernas, nem pensar, caminhar pelo corredor, é bem difícil. E na hora do banheiro? Socorro, né gente! Espaço tão pequeno que deve ser o mais próximo de estar num caixão, com a diferença de estar vivo. E tem aquele barulho horrível da descarga, que já foi tema de pesadelo em minha vida! Sonhei que tive um ataque cardíaco de susto, comecei a descer ralo abaixo e ninguém conseguia me tirar lá de dentro, dado o tamanho: lá só cabe a vítima, ou seja, minha pessoa! E eu gritava, gritava!
E agora ainda tem como plus a alimentação que as companhias estão nos oferecendo. Oi? Tem certeza de que é isso mesmo que tem pra hoje? Não vai demorar para nos darem ração humana. Vamos apostar? Enquanto isso o preço das passagens estão pela hora da morte. E cá pra nós, tem mais uns probleminhas que debito na conta da tripulação. A simpatia das comissárias, que ao por as portas em automático, também põem o ar condicionado no menos três graus abaixo de zero, e congelam sem dó nem piedade (com sorrisinho no rosto) todos a bordo! Não raro tenho colecionado pneumonias pós-vôo. Porque é claro, que mantinha eles não tem. Nem amor ao próximo.
E a generosidade não para ai. Teve uma vez que presenciei uma cena de uma compaixão difícil de aguentar. Embarque feito, todo povo sentado, uma criança nos seus dois aninhos não parava de chorar de dor de ouvido. Bem, eu acho que era no ouvido, mas tenho certeza de que era dor. A pobre da mãe estava constrangidíssima, com muita vergonha das pessoas, mas penso que todo avião estava era com muita peninha da menina. Faltando uma meia hora para descer, ela capotou de cansaço de tanto chorar. A mãe a repousou na poltrona desocupada ao seu lado e relaxou. Só nos sonhos, querida! Surgiu uma boa moça, chamada aeromoça e encheu o saco para deixar a menina sentada e atada, pois estava na hora do pouso! Tudo bem que regras são regras, mas garanto que a autoridade em questão não era mãe! E me segura que vou esbofetear a criatura!
Tem coisa boa em viajar de avião? Sim, a parte de te levar ao seu destino. Desde que não seja ao infinito e além. E só. Bem, tem a rapidez também, mas um bom trem ultra veloz faria o mesmo efeito. Ai se eu tivesse nascido na Europa, seria tão mais feliz! Alguém aí já soube de algum milagre de Santos Dumont? Seria possível ele ser canonizado um dia? Santo Santos Dumont tenha pena de mim! E me ajude, por favor, estou de viagem marcada!

domingo, 17 de novembro de 2013

Sob encomenda


Minha filha me vê escrevendo sem parar e fica muito curiosa. Outro dia me perguntou se qualquer assunto poderia virar crônica. Sim, é claro, afirmei sem pestanejar! E minha resposta sem pensar me colocou numa sinuca, numa verdadeira encruzilhada. Diante de seus olhinhos sagazes surgiu a brilhante ideia de desafiar sua mãe: então escreve sobre as Monsters Highs!!!
E agora? Beco sem saída. Não posso deixar de escrever sobre isso especialmente para a minha filhinha. E se ela achar que eu estava mentindo? Não. E também não posso desistir. Friozinho na barriga. Ao mesmo tempo ser instigada em minha capacidade de escrever, desperta um sentimento bacana. Será que consigo?
E a vida é assim mesmo, ou deveria. Sair da zona de conforto precisa fazer parte de nosso cotidiano. É necessário ir em busca. Ir atrás. Correr. Dar a cara a tapa! Não tem essa de desviar um obstáculo. Vamos em frente. Vamos pular. Passar por cima e quem sabe tratorar o obstáculo. Nunca as pessoas. Atenção! Isso é muito feio! Não esqueça: hay que endurecerse sin perder la ternura jamas!
Precisamos é enxergar um desafio como combustível para crescer. Vontade de evoluir, conquistar, amadurecer. E esse não é só um papo de auto-ajuda, neurolinguística ou filosófico. Se bem que tá parecendo mesmo. Mas é verdade. E talvez formatar o cérebro para as provocações que o mundo nos apresenta, seria uma maneira legal de chegar lá. Onde? Na realização de nossos desejos, ora. Minha filha me deu a oportunidade de dar um grande exemplo. Sua convocação foi meu estímulo. 
E não é isso que queremos mostrar aos filhos? Que não se dá meia volta ao encontrar a primeira porta fechada. Tá difícil? E quem disse que é fácil?! Existem milhões de pedras no nosso caminho. Mas vamos lá. Te ensino que é preciso passar por elas. Te mostro o caminho se preciso for. Te digo e incentivo a ir em frente. Estaremos juntas de mãos dadas e refazer aquela brincadeira de dar pulões ao final da escada rolante. Toda vez que o desafio estiver na sua frente, eu estarei ao seu lado. Todas as vezes que você precisar de mim.
E as Monster Highs? A sim, são bonecas lindas, dependendo do ponto de vista, óbvio, mas principalmente da idade. Para as garotas de oito anos elas são o que há. São fashion, modernas, inteligentes! Tudo bem que são um pouco monstrenguinhas, mas nem toda a beleza do mundo é desprovida de imperfeição. Portanto, é isso mesmo! Com as bonecas aprendemos que não somos iguais. E como é bom ser diferente!
A Draculaura é vampira, e por isso mesmo gosta, digamos, dos sucos mais vermelhos. A Spectra é uma fantasminha, imagino que deva passar por entre as pessoas. Ui! A Clawdeen é filha do lobisomem e uiva como um cachorro louco nas noites de lua cheia. Pobre dos vizinhos! E tem mais umas quatro ou cinco outras monsters. E para ser bem honesta, todas saídas de uma sexta-feira treze alucinada!
Cada qual com sua característica. Cada uma com seus gostos e peculiaridades. Roupas, cortes e cicatrizes. Estranhas, esquisitas. Cabelos coloridos e saltos altíssimos. Personalidades diversas. E cada uma na sua. E todas são super amigas. O respeito à individualidade é uma boa lição para as meninas. E manter as amizades também é um bom exemplo. Sabe aquelas pedras que falei? As que encontramos na nossa vida? Então, passar por elas junto aos amigos facilita bastante.
É filha, qualquer assunto definitivamente pode virar uma crônica! E a partir de agora aceito todas suas encomendas!

domingo, 10 de novembro de 2013

Sobre o nada


                Essa crônica é sobre o nada. Nada a ser escrito. Nada a ser dito. Isso acontece até mesmo com quem fala mais que a boca e pensa mais que o próprio cérebro. Defectível cérebro, é claro. Mas uma máquina incessante. Isso acontece. O nada. Acontece também com quem palpita até na vida da diarista. Com a devida permissão, com certeza. Ou nem tanto. Ou quase nada. Mas não é verdade que sempre temos a solução para os problemas dos outros? Portanto, dar conselhos se o filho da empregada deve ou não fazer o enem, é nada. Um pouco mais que nada. Talvez. Nada é sempre relativo.
                Pronto! O nada rapidamente ganhou corpo. Virou tema de reflexão. É impressionante como a máxima de viver em sociedade, que o ser humano é um ser social e blá, blá, blá, nos faz aptos a interagir com nossos iguais de maneira invasiva. E quem disse que precisa pedir? Quem foi que perguntou? Nos metemos mesmo. E o mais engraçado é que temos a chave do sucesso. Da porta dos outros. O roteiro da vida do outro é facinho de traçar. Por que resolvemos tudo dos outros? Os outros. Dos outros. Para os outros.
                Até nos assuntos mais prosaicos, sabemos mais que nosso semelhante. Repare como sabemos qual o melhor cardápio, a melhor viagem, a melhor marca de xampu. Do remédio para a frieira ao conserto da TV. Só sei que tudo sei, ou sabemos. Quando se trata de logística então, doutores. Já aconteceu de estar de carona com alguém e indicarmos qual o melhor caminho a seguir. O navegador é melhor que o motorista, quase sempre. Se o tema é livro, pimba! Temos a melhor indicação! Filme? É só dizer o gênero. Sempre temos uma vasta experiência. Anos luz na frente de quem aparecer pela frente.
                O palpite é certeiro. A opinião é contundente. O exemplo é pertinente e o resultado desconcertante: resolvemos o seu problema! Simples assim! Pode por uma placa indicando o ofício. Sempre saberemos o que fazer com a aflição alheia. O amigo angustiado bate em nossa casa e abrimos a porta da esperança. E de lá vem o passo a passo, o faz assim ou assado, o vai ou racha e o tim tim por tim tim. Exatamente como uma receita. Mais você. Louro José? No caso mais pra loura palpiteira.
                Em bom latim, o nome disso é dono da razão. Ou dona. Não interessa muito qual gênero. Muito menos o número e o grau, porque é sempre num grau! O proprietário da verdade é aquele que conhece o caminho das pedras e da razão. E sempre tem razão. Qualquer semelhança com o divino não é mera coincidência. Afinal, somos feitos à imagem e semelhança do próprio. Portanto, somos o cara. Temos poder.
                Tá, mas então por que este poder não está presente para resolvermos nossa vida? Onde estão nossos super poderes nessa hora? E os conselhos perfeitos? E as decisões acertadas? Conosco, o buraco não só é bem mais embaixo, como o fundo dá na China. Porque definitivamente nossos problemas não são o foco. O olhar é no vizinho, claro. Ajudar o atormentado é muito mais prazeroso, digo, generoso, do que olhar nosso umbigo! O ser humano é especial, mas esse dom só é capaz de ser exercido diante do espelho. Com outro reflexo. Do outro.
                Temos muita pretensão, prepotência e onipotência. E poder superior em determinar, interferir e invadir. Também dom para nos achar e nos sentir. Sempre os sabichões e elevados. Na máxima potência. E assim caminha a humanidade. Bom seria se fosse calçada nas sandálias da humildade. E com os olhos em nós mesmos.

domingo, 3 de novembro de 2013

Ela só quer dançar


  Não sei o que acontece com esse blog, mas está virando um confessionário de reality show. Tenho uma vontade inacreditável de contar tudo neste espaço, todas as minhas verdades. As de verdade e as de mentira também. Falo tudo e só peço que eu não seja votada, nem vá para o paredão. Então voilá: não sei dançar. Pronto, falei!
                Sacudir o corpo, mexer os quadris e levantar os braços não é necessariamente dançar. E isso eu sei fazer. Digamos que o que eu faço esteja mais próximo do que chamam de expressão corporal. Esse é o nome bacana. O nome popular acho que seria... sei lá, melhor não mencionar. Deixando os floreios de lado, sou boa no teatrinho. A pessoa que está assistindo minha bagunça, quer dizer, o espetáculo na pista, pensa que está diante de Ana Botafogo, jamais da rainha da perna de pau. Faz quarenta anos que engano o povo!
                Já tive meus momentos de tensão em que fui o centro das atenções. Sabe aquele pesadelo recorrente em que um salão inteiro, mais de uma centena de pares de olhos estão em cima de você? Te olhando, observando e o que é pior, julgando! Eu vivi isso de verdade com o futuro marido na festa de casamento. Que cá prá nós, que ele não me leia, parece um boneco de madeira com toda a malemolência que o material pode ter. Se é que você me entende... Portanto, meu parceiro de dança dos famosos era, digamos, no mesmo nível que eu.
Música escolhida, lentinha, linda, prá lá de romântica para dançar juntos. Amor e felicidade no ar! O clima perfeito, tudo pronto para o show! Bem, na hora eu achei um show, mas hoje assistindo a fita VHS, sim é claro, afinal de contas foi no século passado, não sei se choro de rir ou choro de vergonha. Eu e meu marido juntamos as mãos no melhor estilo palma com palma e fizemos um movimento inacreditável. Parecíamos um frentista de posto de gasolina limpando o vidro para-brisa. Movimentos circulares! Oi? Que mico! Ainda bem que amor não tem nada a ver com pa de deux!
                No rock, pop, axé e semelhantes eu faço a linha enfiei a cabeça na tomada 220 e saio rodopiando, balançando, sacudindo e dançando em rodinhas e grupinhos, e aqui o palco é meu. Disfarço tão bem que ninguém percebe que nasci com os dois pés esquerdos. Quer dizer, eu acho né, porque para falar a verdade estou tão compenetrada para não errar minha coreografia, que nem dou bola pros outros. No máximo vão achar que sou a rainha da dança contemporânea e quando o assunto é vanguarda, ninguém questiona, muito menos desconfia. Faço a linha “não to nem aí” e vambora!
                Na hora do samba então, é o meu melhor momento, ou dependendo do ponto de vista, o pior. Quando toca o ritmo no salão eu tenho vontade de criar asas e voar, para bem longe óbvio. Deus é testemunha que eu já tentei ser a globeleza, mas não deu certo. O mais perto que cheguei foi parecer um boneco de oficina mecânica com os braços abertos e sacudindo freneticamente. Ou também de um gringo da Eslovênia em pleno carnaval carioca com os dedinhos indicadores pra cima e pra baixo bem fora do compasso e da batida da música. E os pés formando um clássico “quinze-prás-três”, espanando o chão alternadamente! Vergonha nacional! Lembram-se do Príncipe Charles com aquela negona linda e careca, a Piná? Então, eu sou o príncipe. Óbvio! Ai que pena de mim.
                Imagino que depois de ler este lamento sobre meu estranho dom para a dança, você deve estar pensando que eu odeio um convite para uma festa, certo? Errado! Rezo sempre para ter um casamento na família ou uma formatura, porque estranhamente adoro uma função! E mais louco ainda, adoro dançar. Eu falei que não sei, não que não gosto! Não, eu não sou masoquista, nem palhaça. Amo me divertir. Quando surgem acordes alegres, já jogo os braços pra cima de um lado para outro! Encaro qualquer música. Ainda por cima, corajosa a criatura.
                Quem canta seus males espanta. E quem dança também. Mas tomei uma decisão. Como sou uma pessoa super generosa, e modesta também, na próxima festinha, terei pena de vocês por todos os anos de espetáculos cômicos de minha parte e quando tocar aquele pagodinho da moda, aquele que faz com que até a rainha Elizabeth queira disputar o cargo de madrinha de bateria, e vou sumir. Farei uma cara de reunião importante e inadiável e vazar. Prometo! Cheguei à conclusão que ninguém tem culpa da minha falta de noção!