domingo, 27 de outubro de 2013

Repetir, repetir, repetir


                Quero ter uma conversinha com as mães. Assunto entre progenitoras. Desabafo materno. Vamos lá: em minha casa tem rolado uma prática, que tem me deixado, digamos, tensa. Para não dizer à beira de um ataque de nervos. E olhe que uma mãe com o sistema prá lá de nervoso, é um perigo! Se a tal mulher estiver de tpm então, corra porque são grandes as chances de virar uma psicopata!! É caso de polícia.
                Preciso urgente compartilhar essa dinâmica que se instalou na família, para saber que procedimento tomar: tento uma internação no Pinel, ou qualquer outra instituição que aceite mãe histérica, ou faço o tipo serena e tranquila, que logo a fase passa? Quem sabe passo uns cremes na cara, sento na calçada para observar o movimento, dou uma voltinha no shopping ou no supermercado para ver preços e descobrir o índice da inflação, etc. Ou seja, algo bem mais produtivo que enlouquecer, tendo em vista que amalucar não é bom pra ninguém. Desconfio que seja pior para mim. O problema a que me refiro também não é de saúde. Foi a primeira coisa que me certifiquei, com certificado, inclusive. Laudo e atestado.
Esclarecido tudo, vou te contar e se você for capaz de me ajudar a elucidar o caso, mande cartas para a redação. Por que diabos eu tenho que fazer uso da repetição para todas as falas com minha cria? Por que nunca, atente, eu disse nunca, o primeiro comando é suficiente? Venha tomar banho deve ser repetido por pelo menos cinco vezes! Coloque o pijama, umas três! Coma sua comida, tá na média de oito vezes!! Vá dormir também tá batendo recorde, assim como levante que está na hora!!
Sim, existe uma planilha de estatísticas devidamente arquivadas no computador. Preciso estudar, fazer cálculos, aprofundar os picos, as intensidades e fazer médias. Reclamo, mas com argumentos e provas! Vai que meus relatórios possam ser usados num currículo futuro? MBA de mammys ou quem sabe posso me credenciar para um cargo de chefia? Trabalho na OMS? No mínimo vai ajudar o psiquiatra a fazer o diagnóstico, vai entender melhor porque cheguei babando dentro de uma camisa de força, repetindo a mesma frase sem parar.
Agora pense num disco arranhado, sou eu. Repetindo, repetindo e dizendo de novo! Todas as ações rotineiras têm levado muito mais tempo que o necessário. Já a reação, chega na hora: irritação, cansaço e estresse. De minha parte é claro, porque minha interlocutora está super na boa, quase zen! Um monge inabalável! E sabe por quê? Porque para meu desespero não é caso de teimosia, ela não se nega a fazer nada, só não atende a ordem de primeira, nem de segunda, talvez na terceira, quem sabe na quarta vez...
E enquanto isso, eu, uma pobre representante de Maria, mas, digamos, numa categoria um pouquinho mais mortal e nada santa, vou enlouquecendo aos poucos. Ou pelo menos ganhando o título da mala do ano. Sem alça e sem rodinhas. E sabe quem está me concedendo essa faixa? Sim, ela mesma. Não é justo! Eu quero ser miss simpatia, não a chata!
Se vai passar eu não sei. Ninguém me disse nada ainda. Esse tipo de mini-produto-de-mini-criatura não veio com manual, portanto há de se aguardar, me agarrando numa cordinha de sanidade antes de partir pro quebra tudo geral!! Antes de tudo vou respirar fundo e dar uma passadinha no hortifruti para espairecer. Vai que a alface americana entrou em promoção! Vai me deixar bem feliz!
                E para terminar, antes de xingar e praguejar contra sua vovozinha que não para de falar no mesmo assunto, lembre-se que ela educou, ou tentou, seu pai ou sua mãe. E não necessariamente foi aquele alemão que chegou, aquele que começa com Al e termina com zheimer. Pode ser somente reflexo do sem-número de ordens dadas no passado. Entendeu? Preciso repetir?

 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Inventário


Eu não sei o que acontece, mas tenho vivido um período apegada ao passado. A mente e o pensamento estão lá, to vivendo num almanaque. Me agarrei num amor excessivo, cheio de lembranças. Para ser mais específica pelos anos 80. Portanto, se você me encontrar com o ombro colado na orelha, não se assuste! Não é caxumba, nem otite, muito menos frescurite ou charme. É somente a volta das ombreiras à minha vida! E vamos combinar que não tem nada de glamour, não tem mesmo, nem vintage é! É o mau gosto emoldurado na breguice! Perdão Deus, eu não sei o que faço... Claro que sei! Vergonha na cara e pé no chão! Caramba criatura, estamos no ano 2013!
            Só para constar, vivi minha adolescência nessa década. Cresci e virei gente nos oitenta. Testemunhei a década do exagero: de cores, de sons, de cheiros, de vida e de acontecimentos. Assisti a morte de Odete Roitmann e acompanhei todo o processo de independência de Malu, a mulher, não a Mader. Eu posso estar redondamente enganada, provavelmente até esteja porque cada um tem sua opinião, mas foram os anos mais divertidos do século passado.
            Vou exemplificar minha teoria. Aliás, abrindo um parêntese aqui, desde muito tempo desenvolvo teorias sobre tudo, porque meu hobby é observar o mundo, e depois de ruminar, desenvolvo mil opiniões. Coisa de metida mesmo, de quem não consegue parar de pensar, analisar, comparar e por aí vai. Mas largando o velho hábito feminino de mudar de assunto abruptamente, vou retornar à minha teoria.
            A década de sessenta foi marcada pelo golpe militar, barra pesadíssima. A de setenta pela ditadura e grandes lutas contra ela, dureza também. Povo na prisão, censura, tortura, falta de liberdade de expressão, repressão e tudo aquilo que sabemos. Ou deveríamos né, afinal é nossa história. Daí começa a década de oitenta, a anistia, o Tancredo (tá, no fim das contas foi o Sarney! Ou no começo das contas, não sei bem...), uma luz no fim do túnel, um raiar de abertura. Pronto! Espaço pra deitar e rolar!
            Dizem que fomos uma geração perdida. Até pode. Mas soubemos como ninguém nos divertir despretensiosamente. Geração coca cola e esse título não é pra qualquer um. Essa taça é nossa! E dada por Renato Russo, dá licença. Juntar tanta coisa legal na mesma década, só a dos oitenta! Bombou! Gente, tentar desvendar o cubo mágico é pra lá de animado!! E dificílimo, coisa para os gênios da época! Ok, você venceu!! Confesso: eu não consegui! Deixei no passado o meu cubo indecifrável! E qual é o problema de trocar a política e as passeatas pelo cubo?  Deixem nossa geração em paz.
E por falar em brinquedos, o coração aperta de nostalgia. Se fui uma porta em solucionar o cubo, arrasei no gênius! E o Atari? Aquele bisavô do Wii. Era muito legal: Pac Man, Asteroids, Enduro e Os Smurfs. Se hoje os adolescentes se matam por um “ai alguma coisa”, naquela época, a mania era ser craque no ioiô. Cada manobra tinha nome, sobrenome e CPF. Confie em mim, deixaria qualquer atleta de esporte radical, se achando um pouco mais que nada! Ioiô pra cima, pra baixo, dando piruetas, ultrapassando a estratosfera e chegando a marte. Um espetáculo!
            E a música? É rock and roll mano!!! Tantas bandas legais nasceram lá nos oitenta e até hoje são mencionados e ovacionados: Barão Vermelho, Ira, Capital Inicial, Legião, Titãs, Paralamas, e por aí vai. Tem uma grande lista e todos passaram no palco do insubstituível Chacrinha! Alô, alô Terezinha! No meu caso dancei ao som desse povo nas matinês! Agora, noutro momento confesso, adorava o Globo de Ouro com seu “os dez mais”! Gente inesquecível como Rosana, uma deusa, estava lá uma semana sim, a outra também! Sempre no topo! Ela não é a cara da década? Que fique claro, que antes dela transformar-se numa drag queen coreana! E a Joana? Alguém sabe por onde anda? Será que casou com o namorado? Aquele sujeito educado que ela mandava um recado. Pode ser.
            As roupas eram um caso a parte. Mais que divertidas, eram uma piada. Coloridas fazendo concorrência desleal ao arco-íris! E, além disso, eram cores vibrantes, claaaaro! Não bastava ser verde, precisava ser verde limão! O laranja e o amarelo tinham que servir de bateria para algum Passat, de tão berrante. E todos os acessórios do mundo precisavam estar lá. Laços, fitas, correntes, braceletes, faixas de cabeça, bandana e cruzes – credo, sem dúvidas! A moda dos oitenta foi o contrário de tudo o que conhecemos sobre o clean ou minimalismo! O lado oposto. Menos nunca foi mais. Exagerado, como diria Cazuza.
            Foi ou não divertidíssima essa década? Éramos felizes e não sabíamos. Ingênuos e inocentes sonhando com a promessa da democracia. E um futuro imenso para viver. Minha juventude foi linda e intensa.

domingo, 13 de outubro de 2013

Língua estrangeira


Li num site de notícias uma pesquisa que listava quatorze habilidades que todos devemos ter. Coisas imprescindíveis saber para viver bem. E falar outro idioma estava lá em segundo lugar, perdendo apenas para cozinhar. Nadar em terceiro lugar, na frente de dirigir. Sinal vermelho para mim, ou seja, to ferrada! De cara me dei mal com a lista.
Ando muito desconfiada de que algumas pessoas são incompatíveis com língua estrangeira. Muito provavelmente tem gente que não se dá bem nem com a língua materna, o bom e velho português. Não só não se dá bem, como briga feio mesmo, tipo para sempre! Tem gente que comete crimes horríveis contra nossa herança portuguesa, mata sem dó nem piedade. Mas isso é assunto pra outra crônica. Ou uma tese, um livro, um catálogo telefônico. A coisa rende. Infelizmente.
Meu foco é outro. Por que diabos é tão difícil aprender inglês? Por que the book is on the table é a única coisa que sai de minha boca? Nem yes, nem no, afinal, como vou responder, se não sei o que perguntam? Minha teoria, baseada em décadas de observação entre pessoas de minha classe, categoria e nível (não estou sozinha), estudo sério e estatística comprovada por minha pessoa: tem algum problema conosco gente! Pode apostar que deve ter. Não é normal.
Algum furo na genética, só pode ser. Naquela espiral de DNA deve ter um cromossoma que indique que a pessoa não nasceu para exercer o idioma de Shakespeare. Nunca vai conseguir tocar os dentes com a ponta da língua e pronunciar mouth. É boca, tá?! Acho lindo! E olha que eu estudei bastante! Tentei cursinho, sem falar no inglês da escola. Sou aplicada, estudiosa, nerd e cdf. Mas o buraco é mais embaixo. É de saúde mental, não nasci pra coisa, simples assim. A tal espiral deve ter um nó. E esse não to conseguindo desatar, afe!
Além de não ter neurônio para falar a bendita língua, tenho uma súbita timidez em tentar. Travo, paraliso. Eu, a faceira do bairro, de repente calo a boca. Não sai nada. Silêncio ensurdecedor. Minha mente não consegue lembrar uma palavra sequer. Aliás, é minha única oportunidade de limpar a mente, quase uma meditação. Infelizmente no timing totalmente errado. Não é hora pra isso! Muito embora pra quem seja uma falante compulsiva, talvez eu deva aproveitar mais o momento, dar uma pausa. Mas também não é hora pra isso, pois estou prestes a travar um pretenso diálogo com um gringo.
Acompanhe a situação constrangedora. Ele olhando pra mim e eu olhando pra ele. Momento de pura tensão, suor escorrendo na testa, garganta seca. Está na cara que um de nós vai ter que falar. O lugar fica extremamente claustrofóbico, vai cada vez apertando mais, o país está pequeno para nós dois... Cadê minha habilidade número dois desdoceu??
Respiração puxada do dedão do pé e me encho de coragem. Risinho nervoso, cara de inteligente e de pau. Pronto! O mínimo sai e imediatamente vira piada. Não sei o que acontece, mas baixa uma torre de babel e incorporo uma personagem de hospício e misturo espanhol, italiano, inglês, português e sinais de mímica, claro. Para mim, esta sim, a linguagem universal. Agora não pense que sei espanhol, é portunhol, sem dúvidas. Italiano? Aprendi com as novelas Terra Nostra e Passione. É vero, juro! Desencavo um sotaque macarrônico cruzando o italiano com o inglês e espero do fundo da alma que o interlocutor entenda! Atá!
Rola uma dancinha gingada de mímica e disparo os sinais com as mãos: vamos lá, quatro palavras! A primeira é, vou cortar, olha a sílaba! É filme? Comédia ou romance? Porca miséria, não! Eu só queria saber onde é o toalete... Embate perdido! Um a zero pra ele. Manda chamar o Pablo ou a Juanita do fundo da loja para entender essa louca. Humilhação total!
Acumulo sufocos dignos de zorra total no estrangeiro. A minha lista está capenga, só prestam treze itens. Meu caso é triste, ainda bem que o português salva! E Jesus Cristo também! Vai um espaguete aí?

domingo, 6 de outubro de 2013

Rotina na primavera


                Levantar cedo, estar alerta e esperta. Acordar a criança com carinho e beijinhos. E de quebra escutar um bom dia bem mal humorado, afinal é cedo demais. Tudo bem, essa parte a gente não dá bola! Abrir as cortinas e encontrar um lindo dia de sol. É primavera! Tempo de recomeço, renascimento da natureza. Adoooro!
                Repare como a rotina fica muito mais legal na primavera. Tem outro astral, tem outra cor e peso. Faço parte de um grupo que gosta muito de rotina. Mentira! Nem sei se existe tal grupo!! Talvez eu esteja só, aliás, nunca ouvi alguém compartilhar deste gosto... Mas, o fato é que confesso: sempre gostei de rotina! E minha casa é uma caserna, e a general aqui, mantém a ordem e o progresso, é claro, na base da disciplina! Um, dois, feijão com arroz! Aqui só faltam marchar! Até o cachorro!
                Eu defendo a rotina por acreditar que organização é tudo. Interna então, nem se fala!  E ter rotina na vida é garantia de calma, tranquilidade e segurança. Pense, se é possível fazer as coisas iguais todos os dias, fica fácil manter tudo sob controle. Tá, mas obsessão tem limite, e sair da zona de conforto e dar de cara com o imprevisto está no projeto! Inclusive, sou especialista em administrar conflitos e crises. Pode-se dizer que estou apta a trabalhar em Washington DC, na sede do governo americano.
                Não conheço mãe que não esteja! Estamos todas prontas para encarar qualquer sírio ou iraniano! Nossos pequenos rebeldes nos credenciam para isso! Camarada, correr para dar conta de nossa rotina, não é para qualquer um! Definitivamente! Apito e cronômetro na mão e partiu o dia! E a rotina é nossa aliada, nossa força tarefa, que faz com que nossos soldadinhos de chumbo entendam que existem as responsabilidades e os compromissos. Eles precisam aprender a respeitar horários, cumprir tarefas, deveres, ter metas e objetivos. E tem mais, no nosso quartel general não tem essa de começar as coisas e parar. Temos que ir até o fim, nada de moleza. Não vai dar conta? Pede pra sair! Eu sou o capitão Nascimento do dia-a-dia!
                Agora, fazer tudo isso nesta estação tem outro sabor. Viva a rotina na primavera! Parece que ao abrir a cortina e encontrar um dia tão lindo vai garantir o dia perfeito. Redondinho, sincronizado e encaixadinho. E mesmo que não o seja, vai chegar bem pertinho do sonho com mais passarinhos, mais flores, cores e beleza. O ritmo é de alegria orquestrada pelo tempo. O riso vem mais fácil e o bom humor também. Impossível não curtir e não acordar com a cara da felicidade.
                Pena que toda essa parte que eu escrevi sobre a primavera, sol, dia lindo e coisa e tal, seja fruto da minha imaginação! Te peguei! Infelizmente a primavera ainda não deu as caras na cidade onde eu moro! Gente, aqui só chove. Faz tempo que o astro rei não aparece. E a natureza ainda nem percebeu que a estação já mudou! Bem que eu queria que tudo fosse verídico, mas é pura ficção. Essa é a novela da minha vida.
Desculpe amigo, eu não queria enganá-lo, estou apenas usando a força do meu pensamento e das palavras para quem sabe atrair o sol e toda essa energia bacana que descrevi. Aquele papinho de atração do universo sabe? Me agarrei na esperança, entende? Foi apenas um recurso. Por aqui estamos bem precisados. Tô recorrendo a tudo, tipo desespero. E sem querer desmerecer minha cidade, mas se fosse Londres até, quem sabe, um chazinho das cinco resolveria a situação. Mas não, aqui tem que encarar o bom pingado para aquecer. Porque para completar o clima, tá fresquinho ainda.
                A parte da rotina é toda verdade e que o outro QG da cidade é aqui na nossa casa também. Pobre dos meus soldados. E também é verdade que eu acordaria muito mais feliz se encontrasse a primavera pela janela, isso com certeza. Estou doidinha para exercer todo meu poder e minha liderança na primavera. Para falar a verdade eu só quero levar minha calma vida com sol. Só isso.
                PS.: Chama o Tim Maia: Trago essa rosa para te dar, meu amor! Hoje o sol está tão lindo! Sai chuva! É primavera!
                Ontem ele apareceu, quis me mostrar que ainda vive, ainda é o maior e o máximo do alto astral! Valeu São Pedro! Toca aqui!!