sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

TPM


Mensalmente quase todas as mulheres que menstruam sofrem de tensão pré-menstrual ou sob o ponto de vista masculino “tenha pena de mim”. O fato é que essa sigla causa. Sem dúvidas causa! Causa loucuras, sentimentos e emoções radicais em quem tem a malfadada tensão e em quem convive com quem sofre da própria. Trocando em miúdos ou resumindo a ópera em bom português: TPM ou tudo pode mudar! A qualquer momento.
A vida corre bem. Tá tudo tranquilo e sereno. O mês passando rotineiramente dia após dia. Então, de repente percebe-se um choro fácil. Aquele comercial de bandeide te causa uma pena sem fim da criança machucada. Escorre uma lágrima pelo rosto. Meu Deus, por que as crianças sofrem? As crianças da África estão pagando um preço muito alto pelos anos de guerra civil! Não é nada justo um tufão assolar toda a população das Filipinas! De uma hora para outra todos os problemas infantis surgem na sua cabeça. Você pensa em tornar-se a Angelina Joli e trabalhar para a Unicef. Ou quem sabe procurar o Didi Mocó e contribuir no Criança Esperança. Buáááááá!
Pronto! Aqueles dias chegaram! E vai rolar a bola de neve. Porque festa mesmo, nem pensar, nem se a própria Ivete Sangalo em carne e osso, vier cantar na garagem! A avalanche está prestes a acontecer e quem está por perto, segure-se! Normalmente não sobra nada, ou para falar a verdade, sobra pra todo mundo!
                A boazinha fazendo a Madre Tereza de Calcutá com pena do mundo rapidamente se transforma. Essa personagem sai de cena aqui. O chororô some e vem uma imensa onda de irritação. Mas por que diabos tiraram a escova de cabelos do banheiro? Quem foi o infeliz que deixou essas marcas de dedo na mesa de vidro? Não pode abrir a geladeira 746 vezes ao minuto!! Tudo vira motivo para esbravejar e vociferar. Afinal, os nervos não estão à flor da pele, estão expostos!
E a transmutação genética continua. Tipo um Hulk feminino (e rosa pink vai! Porque aquele verde catarro ninguém merece...). No segundo dia de TPM um instinto assassino sai de dentro e a psicopata que mora em mim finalmente aparece. O satanás de saia. Ódio do mundo, do carteiro ao – de novo, cachorro. Até o tom de voz muda: do açucarado doce melado ao limão azedo insuportável. Salve-se quem puder! Ainda não sei se é para rir ou chorar! Meu marido diria que com certeza é para chorar. De raiva de mim.
Mas a mulherada sofre, juro que sofremos! Não é fácil conviver com o diabo no corpo uma vez por mês. Nossa vida parece promoção de shopping, quatro dias de loucura, mas sem a parte boa. Ou seja, sem compras, só as contas. No final são tantas mancadas e tantos exageros, que venho a público através deste blog pedir desculpas à nação. E em particular à família. É só TPM, vai passar, aguardem. Se quiser chamar um exorcista já aviso que não vai adiantar.
E como dizem, depois da tempestade, no caso um tornado, vem a bonança e entre mortos e feridos, salvam-se todos. Ou quase. Sempre tem aquela camarada que termina a história capenga. De resto, voltamos, de uma hora para outra, como boas neuróticas que somos, a ser a fofura em pessoa! Meigas e ternas! E bora tocar a vida como se nada tivesse acontecido. Fazer cara de paisagem neste caso ajuda bastante.
Agora, cá entre nós, que ninguém nos ouça (ou leia), Deus é muito esquisito. Nos deu o dom da maternidade, o privilégio do milagre da vida, mas em contrapartida concedeu um surto mensal!! Somos muito doidas mesmo. Quanta ambiguidade! E depois ainda queremos ser compreendidas pelos homens. Quem entende essa maluquice toda? Missão impossível. Ah! Mês que vem tem mais.

domingo, 24 de novembro de 2013

Contra a lógica


Existem coisas que desafiam a lógica. E tudo que não faz sentido ao mundo, faz menos ainda para mim. É como se fosse uma armadilha e mais cedo ou mais tarde, vai dar merda. Pode ser uma ode ao pessimismo, acho até que é. Mas não é a melhor maneira de definir o medo de avião?
Olha o glamour, assim não perco a pose! Antes culpar as teorias da física do que assumir que sou uma cagona e tenho pânico dos transportes aéreos! Portanto, é isso que vou fazer. Camarada, compare um pardalzinho a um jumbo! Quem você acha que pesa mais? Como pode uma coisa daquele tamanhão voar?
É uma dúvida que fica martelando todas as vezes que coloco os meus pés num aeroporto. O pior de tudo é que esta pergunta se instala na minha cabeça com vinte e quatro horas de antecedência do check in e só vai embora na sala de desembarque do meu destino! Assim que eu pego a mala, dou uma respirada tranquila, de um sentimento de alívio provavelmente comparado a achar um vaso sanitário, nos casos de extrema necessidade. Se é que você me entende... Acredite, é a mais pura verdade!
Se você reparar no resumo do “quem sou eu” deste blog, irá perceber que me defino como viajante apaixonada. Olha o drama. Amo viajar, ou seja, ir para os lugares, mas pegar o maldito avião é meu desespero! Sofro como se fosse para o Afeganistão! E posso garantir, e provar com meu passaporte, que nunca fui pra lá. Os destinos de minha família são bem bacaninhas. Mas o processo é bem doloroso para mim.
Além do fato de achar que foram os passarinhos que nasceram pra isso e não máquinas enormes, tem toda sensação claustrofóbica. Apertados naquela lata, nós, os passageiros, mal conseguimos nos mexer. Cruzar pernas, nem pensar, caminhar pelo corredor, é bem difícil. E na hora do banheiro? Socorro, né gente! Espaço tão pequeno que deve ser o mais próximo de estar num caixão, com a diferença de estar vivo. E tem aquele barulho horrível da descarga, que já foi tema de pesadelo em minha vida! Sonhei que tive um ataque cardíaco de susto, comecei a descer ralo abaixo e ninguém conseguia me tirar lá de dentro, dado o tamanho: lá só cabe a vítima, ou seja, minha pessoa! E eu gritava, gritava!
E agora ainda tem como plus a alimentação que as companhias estão nos oferecendo. Oi? Tem certeza de que é isso mesmo que tem pra hoje? Não vai demorar para nos darem ração humana. Vamos apostar? Enquanto isso o preço das passagens estão pela hora da morte. E cá pra nós, tem mais uns probleminhas que debito na conta da tripulação. A simpatia das comissárias, que ao por as portas em automático, também põem o ar condicionado no menos três graus abaixo de zero, e congelam sem dó nem piedade (com sorrisinho no rosto) todos a bordo! Não raro tenho colecionado pneumonias pós-vôo. Porque é claro, que mantinha eles não tem. Nem amor ao próximo.
E a generosidade não para ai. Teve uma vez que presenciei uma cena de uma compaixão difícil de aguentar. Embarque feito, todo povo sentado, uma criança nos seus dois aninhos não parava de chorar de dor de ouvido. Bem, eu acho que era no ouvido, mas tenho certeza de que era dor. A pobre da mãe estava constrangidíssima, com muita vergonha das pessoas, mas penso que todo avião estava era com muita peninha da menina. Faltando uma meia hora para descer, ela capotou de cansaço de tanto chorar. A mãe a repousou na poltrona desocupada ao seu lado e relaxou. Só nos sonhos, querida! Surgiu uma boa moça, chamada aeromoça e encheu o saco para deixar a menina sentada e atada, pois estava na hora do pouso! Tudo bem que regras são regras, mas garanto que a autoridade em questão não era mãe! E me segura que vou esbofetear a criatura!
Tem coisa boa em viajar de avião? Sim, a parte de te levar ao seu destino. Desde que não seja ao infinito e além. E só. Bem, tem a rapidez também, mas um bom trem ultra veloz faria o mesmo efeito. Ai se eu tivesse nascido na Europa, seria tão mais feliz! Alguém aí já soube de algum milagre de Santos Dumont? Seria possível ele ser canonizado um dia? Santo Santos Dumont tenha pena de mim! E me ajude, por favor, estou de viagem marcada!

domingo, 17 de novembro de 2013

Sob encomenda


Minha filha me vê escrevendo sem parar e fica muito curiosa. Outro dia me perguntou se qualquer assunto poderia virar crônica. Sim, é claro, afirmei sem pestanejar! E minha resposta sem pensar me colocou numa sinuca, numa verdadeira encruzilhada. Diante de seus olhinhos sagazes surgiu a brilhante ideia de desafiar sua mãe: então escreve sobre as Monsters Highs!!!
E agora? Beco sem saída. Não posso deixar de escrever sobre isso especialmente para a minha filhinha. E se ela achar que eu estava mentindo? Não. E também não posso desistir. Friozinho na barriga. Ao mesmo tempo ser instigada em minha capacidade de escrever, desperta um sentimento bacana. Será que consigo?
E a vida é assim mesmo, ou deveria. Sair da zona de conforto precisa fazer parte de nosso cotidiano. É necessário ir em busca. Ir atrás. Correr. Dar a cara a tapa! Não tem essa de desviar um obstáculo. Vamos em frente. Vamos pular. Passar por cima e quem sabe tratorar o obstáculo. Nunca as pessoas. Atenção! Isso é muito feio! Não esqueça: hay que endurecerse sin perder la ternura jamas!
Precisamos é enxergar um desafio como combustível para crescer. Vontade de evoluir, conquistar, amadurecer. E esse não é só um papo de auto-ajuda, neurolinguística ou filosófico. Se bem que tá parecendo mesmo. Mas é verdade. E talvez formatar o cérebro para as provocações que o mundo nos apresenta, seria uma maneira legal de chegar lá. Onde? Na realização de nossos desejos, ora. Minha filha me deu a oportunidade de dar um grande exemplo. Sua convocação foi meu estímulo. 
E não é isso que queremos mostrar aos filhos? Que não se dá meia volta ao encontrar a primeira porta fechada. Tá difícil? E quem disse que é fácil?! Existem milhões de pedras no nosso caminho. Mas vamos lá. Te ensino que é preciso passar por elas. Te mostro o caminho se preciso for. Te digo e incentivo a ir em frente. Estaremos juntas de mãos dadas e refazer aquela brincadeira de dar pulões ao final da escada rolante. Toda vez que o desafio estiver na sua frente, eu estarei ao seu lado. Todas as vezes que você precisar de mim.
E as Monster Highs? A sim, são bonecas lindas, dependendo do ponto de vista, óbvio, mas principalmente da idade. Para as garotas de oito anos elas são o que há. São fashion, modernas, inteligentes! Tudo bem que são um pouco monstrenguinhas, mas nem toda a beleza do mundo é desprovida de imperfeição. Portanto, é isso mesmo! Com as bonecas aprendemos que não somos iguais. E como é bom ser diferente!
A Draculaura é vampira, e por isso mesmo gosta, digamos, dos sucos mais vermelhos. A Spectra é uma fantasminha, imagino que deva passar por entre as pessoas. Ui! A Clawdeen é filha do lobisomem e uiva como um cachorro louco nas noites de lua cheia. Pobre dos vizinhos! E tem mais umas quatro ou cinco outras monsters. E para ser bem honesta, todas saídas de uma sexta-feira treze alucinada!
Cada qual com sua característica. Cada uma com seus gostos e peculiaridades. Roupas, cortes e cicatrizes. Estranhas, esquisitas. Cabelos coloridos e saltos altíssimos. Personalidades diversas. E cada uma na sua. E todas são super amigas. O respeito à individualidade é uma boa lição para as meninas. E manter as amizades também é um bom exemplo. Sabe aquelas pedras que falei? As que encontramos na nossa vida? Então, passar por elas junto aos amigos facilita bastante.
É filha, qualquer assunto definitivamente pode virar uma crônica! E a partir de agora aceito todas suas encomendas!

domingo, 10 de novembro de 2013

Sobre o nada


                Essa crônica é sobre o nada. Nada a ser escrito. Nada a ser dito. Isso acontece até mesmo com quem fala mais que a boca e pensa mais que o próprio cérebro. Defectível cérebro, é claro. Mas uma máquina incessante. Isso acontece. O nada. Acontece também com quem palpita até na vida da diarista. Com a devida permissão, com certeza. Ou nem tanto. Ou quase nada. Mas não é verdade que sempre temos a solução para os problemas dos outros? Portanto, dar conselhos se o filho da empregada deve ou não fazer o enem, é nada. Um pouco mais que nada. Talvez. Nada é sempre relativo.
                Pronto! O nada rapidamente ganhou corpo. Virou tema de reflexão. É impressionante como a máxima de viver em sociedade, que o ser humano é um ser social e blá, blá, blá, nos faz aptos a interagir com nossos iguais de maneira invasiva. E quem disse que precisa pedir? Quem foi que perguntou? Nos metemos mesmo. E o mais engraçado é que temos a chave do sucesso. Da porta dos outros. O roteiro da vida do outro é facinho de traçar. Por que resolvemos tudo dos outros? Os outros. Dos outros. Para os outros.
                Até nos assuntos mais prosaicos, sabemos mais que nosso semelhante. Repare como sabemos qual o melhor cardápio, a melhor viagem, a melhor marca de xampu. Do remédio para a frieira ao conserto da TV. Só sei que tudo sei, ou sabemos. Quando se trata de logística então, doutores. Já aconteceu de estar de carona com alguém e indicarmos qual o melhor caminho a seguir. O navegador é melhor que o motorista, quase sempre. Se o tema é livro, pimba! Temos a melhor indicação! Filme? É só dizer o gênero. Sempre temos uma vasta experiência. Anos luz na frente de quem aparecer pela frente.
                O palpite é certeiro. A opinião é contundente. O exemplo é pertinente e o resultado desconcertante: resolvemos o seu problema! Simples assim! Pode por uma placa indicando o ofício. Sempre saberemos o que fazer com a aflição alheia. O amigo angustiado bate em nossa casa e abrimos a porta da esperança. E de lá vem o passo a passo, o faz assim ou assado, o vai ou racha e o tim tim por tim tim. Exatamente como uma receita. Mais você. Louro José? No caso mais pra loura palpiteira.
                Em bom latim, o nome disso é dono da razão. Ou dona. Não interessa muito qual gênero. Muito menos o número e o grau, porque é sempre num grau! O proprietário da verdade é aquele que conhece o caminho das pedras e da razão. E sempre tem razão. Qualquer semelhança com o divino não é mera coincidência. Afinal, somos feitos à imagem e semelhança do próprio. Portanto, somos o cara. Temos poder.
                Tá, mas então por que este poder não está presente para resolvermos nossa vida? Onde estão nossos super poderes nessa hora? E os conselhos perfeitos? E as decisões acertadas? Conosco, o buraco não só é bem mais embaixo, como o fundo dá na China. Porque definitivamente nossos problemas não são o foco. O olhar é no vizinho, claro. Ajudar o atormentado é muito mais prazeroso, digo, generoso, do que olhar nosso umbigo! O ser humano é especial, mas esse dom só é capaz de ser exercido diante do espelho. Com outro reflexo. Do outro.
                Temos muita pretensão, prepotência e onipotência. E poder superior em determinar, interferir e invadir. Também dom para nos achar e nos sentir. Sempre os sabichões e elevados. Na máxima potência. E assim caminha a humanidade. Bom seria se fosse calçada nas sandálias da humildade. E com os olhos em nós mesmos.

domingo, 3 de novembro de 2013

Ela só quer dançar


  Não sei o que acontece com esse blog, mas está virando um confessionário de reality show. Tenho uma vontade inacreditável de contar tudo neste espaço, todas as minhas verdades. As de verdade e as de mentira também. Falo tudo e só peço que eu não seja votada, nem vá para o paredão. Então voilá: não sei dançar. Pronto, falei!
                Sacudir o corpo, mexer os quadris e levantar os braços não é necessariamente dançar. E isso eu sei fazer. Digamos que o que eu faço esteja mais próximo do que chamam de expressão corporal. Esse é o nome bacana. O nome popular acho que seria... sei lá, melhor não mencionar. Deixando os floreios de lado, sou boa no teatrinho. A pessoa que está assistindo minha bagunça, quer dizer, o espetáculo na pista, pensa que está diante de Ana Botafogo, jamais da rainha da perna de pau. Faz quarenta anos que engano o povo!
                Já tive meus momentos de tensão em que fui o centro das atenções. Sabe aquele pesadelo recorrente em que um salão inteiro, mais de uma centena de pares de olhos estão em cima de você? Te olhando, observando e o que é pior, julgando! Eu vivi isso de verdade com o futuro marido na festa de casamento. Que cá prá nós, que ele não me leia, parece um boneco de madeira com toda a malemolência que o material pode ter. Se é que você me entende... Portanto, meu parceiro de dança dos famosos era, digamos, no mesmo nível que eu.
Música escolhida, lentinha, linda, prá lá de romântica para dançar juntos. Amor e felicidade no ar! O clima perfeito, tudo pronto para o show! Bem, na hora eu achei um show, mas hoje assistindo a fita VHS, sim é claro, afinal de contas foi no século passado, não sei se choro de rir ou choro de vergonha. Eu e meu marido juntamos as mãos no melhor estilo palma com palma e fizemos um movimento inacreditável. Parecíamos um frentista de posto de gasolina limpando o vidro para-brisa. Movimentos circulares! Oi? Que mico! Ainda bem que amor não tem nada a ver com pa de deux!
                No rock, pop, axé e semelhantes eu faço a linha enfiei a cabeça na tomada 220 e saio rodopiando, balançando, sacudindo e dançando em rodinhas e grupinhos, e aqui o palco é meu. Disfarço tão bem que ninguém percebe que nasci com os dois pés esquerdos. Quer dizer, eu acho né, porque para falar a verdade estou tão compenetrada para não errar minha coreografia, que nem dou bola pros outros. No máximo vão achar que sou a rainha da dança contemporânea e quando o assunto é vanguarda, ninguém questiona, muito menos desconfia. Faço a linha “não to nem aí” e vambora!
                Na hora do samba então, é o meu melhor momento, ou dependendo do ponto de vista, o pior. Quando toca o ritmo no salão eu tenho vontade de criar asas e voar, para bem longe óbvio. Deus é testemunha que eu já tentei ser a globeleza, mas não deu certo. O mais perto que cheguei foi parecer um boneco de oficina mecânica com os braços abertos e sacudindo freneticamente. Ou também de um gringo da Eslovênia em pleno carnaval carioca com os dedinhos indicadores pra cima e pra baixo bem fora do compasso e da batida da música. E os pés formando um clássico “quinze-prás-três”, espanando o chão alternadamente! Vergonha nacional! Lembram-se do Príncipe Charles com aquela negona linda e careca, a Piná? Então, eu sou o príncipe. Óbvio! Ai que pena de mim.
                Imagino que depois de ler este lamento sobre meu estranho dom para a dança, você deve estar pensando que eu odeio um convite para uma festa, certo? Errado! Rezo sempre para ter um casamento na família ou uma formatura, porque estranhamente adoro uma função! E mais louco ainda, adoro dançar. Eu falei que não sei, não que não gosto! Não, eu não sou masoquista, nem palhaça. Amo me divertir. Quando surgem acordes alegres, já jogo os braços pra cima de um lado para outro! Encaro qualquer música. Ainda por cima, corajosa a criatura.
                Quem canta seus males espanta. E quem dança também. Mas tomei uma decisão. Como sou uma pessoa super generosa, e modesta também, na próxima festinha, terei pena de vocês por todos os anos de espetáculos cômicos de minha parte e quando tocar aquele pagodinho da moda, aquele que faz com que até a rainha Elizabeth queira disputar o cargo de madrinha de bateria, e vou sumir. Farei uma cara de reunião importante e inadiável e vazar. Prometo! Cheguei à conclusão que ninguém tem culpa da minha falta de noção!

               

               

domingo, 27 de outubro de 2013

Repetir, repetir, repetir


                Quero ter uma conversinha com as mães. Assunto entre progenitoras. Desabafo materno. Vamos lá: em minha casa tem rolado uma prática, que tem me deixado, digamos, tensa. Para não dizer à beira de um ataque de nervos. E olhe que uma mãe com o sistema prá lá de nervoso, é um perigo! Se a tal mulher estiver de tpm então, corra porque são grandes as chances de virar uma psicopata!! É caso de polícia.
                Preciso urgente compartilhar essa dinâmica que se instalou na família, para saber que procedimento tomar: tento uma internação no Pinel, ou qualquer outra instituição que aceite mãe histérica, ou faço o tipo serena e tranquila, que logo a fase passa? Quem sabe passo uns cremes na cara, sento na calçada para observar o movimento, dou uma voltinha no shopping ou no supermercado para ver preços e descobrir o índice da inflação, etc. Ou seja, algo bem mais produtivo que enlouquecer, tendo em vista que amalucar não é bom pra ninguém. Desconfio que seja pior para mim. O problema a que me refiro também não é de saúde. Foi a primeira coisa que me certifiquei, com certificado, inclusive. Laudo e atestado.
Esclarecido tudo, vou te contar e se você for capaz de me ajudar a elucidar o caso, mande cartas para a redação. Por que diabos eu tenho que fazer uso da repetição para todas as falas com minha cria? Por que nunca, atente, eu disse nunca, o primeiro comando é suficiente? Venha tomar banho deve ser repetido por pelo menos cinco vezes! Coloque o pijama, umas três! Coma sua comida, tá na média de oito vezes!! Vá dormir também tá batendo recorde, assim como levante que está na hora!!
Sim, existe uma planilha de estatísticas devidamente arquivadas no computador. Preciso estudar, fazer cálculos, aprofundar os picos, as intensidades e fazer médias. Reclamo, mas com argumentos e provas! Vai que meus relatórios possam ser usados num currículo futuro? MBA de mammys ou quem sabe posso me credenciar para um cargo de chefia? Trabalho na OMS? No mínimo vai ajudar o psiquiatra a fazer o diagnóstico, vai entender melhor porque cheguei babando dentro de uma camisa de força, repetindo a mesma frase sem parar.
Agora pense num disco arranhado, sou eu. Repetindo, repetindo e dizendo de novo! Todas as ações rotineiras têm levado muito mais tempo que o necessário. Já a reação, chega na hora: irritação, cansaço e estresse. De minha parte é claro, porque minha interlocutora está super na boa, quase zen! Um monge inabalável! E sabe por quê? Porque para meu desespero não é caso de teimosia, ela não se nega a fazer nada, só não atende a ordem de primeira, nem de segunda, talvez na terceira, quem sabe na quarta vez...
E enquanto isso, eu, uma pobre representante de Maria, mas, digamos, numa categoria um pouquinho mais mortal e nada santa, vou enlouquecendo aos poucos. Ou pelo menos ganhando o título da mala do ano. Sem alça e sem rodinhas. E sabe quem está me concedendo essa faixa? Sim, ela mesma. Não é justo! Eu quero ser miss simpatia, não a chata!
Se vai passar eu não sei. Ninguém me disse nada ainda. Esse tipo de mini-produto-de-mini-criatura não veio com manual, portanto há de se aguardar, me agarrando numa cordinha de sanidade antes de partir pro quebra tudo geral!! Antes de tudo vou respirar fundo e dar uma passadinha no hortifruti para espairecer. Vai que a alface americana entrou em promoção! Vai me deixar bem feliz!
                E para terminar, antes de xingar e praguejar contra sua vovozinha que não para de falar no mesmo assunto, lembre-se que ela educou, ou tentou, seu pai ou sua mãe. E não necessariamente foi aquele alemão que chegou, aquele que começa com Al e termina com zheimer. Pode ser somente reflexo do sem-número de ordens dadas no passado. Entendeu? Preciso repetir?

 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Inventário


Eu não sei o que acontece, mas tenho vivido um período apegada ao passado. A mente e o pensamento estão lá, to vivendo num almanaque. Me agarrei num amor excessivo, cheio de lembranças. Para ser mais específica pelos anos 80. Portanto, se você me encontrar com o ombro colado na orelha, não se assuste! Não é caxumba, nem otite, muito menos frescurite ou charme. É somente a volta das ombreiras à minha vida! E vamos combinar que não tem nada de glamour, não tem mesmo, nem vintage é! É o mau gosto emoldurado na breguice! Perdão Deus, eu não sei o que faço... Claro que sei! Vergonha na cara e pé no chão! Caramba criatura, estamos no ano 2013!
            Só para constar, vivi minha adolescência nessa década. Cresci e virei gente nos oitenta. Testemunhei a década do exagero: de cores, de sons, de cheiros, de vida e de acontecimentos. Assisti a morte de Odete Roitmann e acompanhei todo o processo de independência de Malu, a mulher, não a Mader. Eu posso estar redondamente enganada, provavelmente até esteja porque cada um tem sua opinião, mas foram os anos mais divertidos do século passado.
            Vou exemplificar minha teoria. Aliás, abrindo um parêntese aqui, desde muito tempo desenvolvo teorias sobre tudo, porque meu hobby é observar o mundo, e depois de ruminar, desenvolvo mil opiniões. Coisa de metida mesmo, de quem não consegue parar de pensar, analisar, comparar e por aí vai. Mas largando o velho hábito feminino de mudar de assunto abruptamente, vou retornar à minha teoria.
            A década de sessenta foi marcada pelo golpe militar, barra pesadíssima. A de setenta pela ditadura e grandes lutas contra ela, dureza também. Povo na prisão, censura, tortura, falta de liberdade de expressão, repressão e tudo aquilo que sabemos. Ou deveríamos né, afinal é nossa história. Daí começa a década de oitenta, a anistia, o Tancredo (tá, no fim das contas foi o Sarney! Ou no começo das contas, não sei bem...), uma luz no fim do túnel, um raiar de abertura. Pronto! Espaço pra deitar e rolar!
            Dizem que fomos uma geração perdida. Até pode. Mas soubemos como ninguém nos divertir despretensiosamente. Geração coca cola e esse título não é pra qualquer um. Essa taça é nossa! E dada por Renato Russo, dá licença. Juntar tanta coisa legal na mesma década, só a dos oitenta! Bombou! Gente, tentar desvendar o cubo mágico é pra lá de animado!! E dificílimo, coisa para os gênios da época! Ok, você venceu!! Confesso: eu não consegui! Deixei no passado o meu cubo indecifrável! E qual é o problema de trocar a política e as passeatas pelo cubo?  Deixem nossa geração em paz.
E por falar em brinquedos, o coração aperta de nostalgia. Se fui uma porta em solucionar o cubo, arrasei no gênius! E o Atari? Aquele bisavô do Wii. Era muito legal: Pac Man, Asteroids, Enduro e Os Smurfs. Se hoje os adolescentes se matam por um “ai alguma coisa”, naquela época, a mania era ser craque no ioiô. Cada manobra tinha nome, sobrenome e CPF. Confie em mim, deixaria qualquer atleta de esporte radical, se achando um pouco mais que nada! Ioiô pra cima, pra baixo, dando piruetas, ultrapassando a estratosfera e chegando a marte. Um espetáculo!
            E a música? É rock and roll mano!!! Tantas bandas legais nasceram lá nos oitenta e até hoje são mencionados e ovacionados: Barão Vermelho, Ira, Capital Inicial, Legião, Titãs, Paralamas, e por aí vai. Tem uma grande lista e todos passaram no palco do insubstituível Chacrinha! Alô, alô Terezinha! No meu caso dancei ao som desse povo nas matinês! Agora, noutro momento confesso, adorava o Globo de Ouro com seu “os dez mais”! Gente inesquecível como Rosana, uma deusa, estava lá uma semana sim, a outra também! Sempre no topo! Ela não é a cara da década? Que fique claro, que antes dela transformar-se numa drag queen coreana! E a Joana? Alguém sabe por onde anda? Será que casou com o namorado? Aquele sujeito educado que ela mandava um recado. Pode ser.
            As roupas eram um caso a parte. Mais que divertidas, eram uma piada. Coloridas fazendo concorrência desleal ao arco-íris! E, além disso, eram cores vibrantes, claaaaro! Não bastava ser verde, precisava ser verde limão! O laranja e o amarelo tinham que servir de bateria para algum Passat, de tão berrante. E todos os acessórios do mundo precisavam estar lá. Laços, fitas, correntes, braceletes, faixas de cabeça, bandana e cruzes – credo, sem dúvidas! A moda dos oitenta foi o contrário de tudo o que conhecemos sobre o clean ou minimalismo! O lado oposto. Menos nunca foi mais. Exagerado, como diria Cazuza.
            Foi ou não divertidíssima essa década? Éramos felizes e não sabíamos. Ingênuos e inocentes sonhando com a promessa da democracia. E um futuro imenso para viver. Minha juventude foi linda e intensa.

domingo, 13 de outubro de 2013

Língua estrangeira


Li num site de notícias uma pesquisa que listava quatorze habilidades que todos devemos ter. Coisas imprescindíveis saber para viver bem. E falar outro idioma estava lá em segundo lugar, perdendo apenas para cozinhar. Nadar em terceiro lugar, na frente de dirigir. Sinal vermelho para mim, ou seja, to ferrada! De cara me dei mal com a lista.
Ando muito desconfiada de que algumas pessoas são incompatíveis com língua estrangeira. Muito provavelmente tem gente que não se dá bem nem com a língua materna, o bom e velho português. Não só não se dá bem, como briga feio mesmo, tipo para sempre! Tem gente que comete crimes horríveis contra nossa herança portuguesa, mata sem dó nem piedade. Mas isso é assunto pra outra crônica. Ou uma tese, um livro, um catálogo telefônico. A coisa rende. Infelizmente.
Meu foco é outro. Por que diabos é tão difícil aprender inglês? Por que the book is on the table é a única coisa que sai de minha boca? Nem yes, nem no, afinal, como vou responder, se não sei o que perguntam? Minha teoria, baseada em décadas de observação entre pessoas de minha classe, categoria e nível (não estou sozinha), estudo sério e estatística comprovada por minha pessoa: tem algum problema conosco gente! Pode apostar que deve ter. Não é normal.
Algum furo na genética, só pode ser. Naquela espiral de DNA deve ter um cromossoma que indique que a pessoa não nasceu para exercer o idioma de Shakespeare. Nunca vai conseguir tocar os dentes com a ponta da língua e pronunciar mouth. É boca, tá?! Acho lindo! E olha que eu estudei bastante! Tentei cursinho, sem falar no inglês da escola. Sou aplicada, estudiosa, nerd e cdf. Mas o buraco é mais embaixo. É de saúde mental, não nasci pra coisa, simples assim. A tal espiral deve ter um nó. E esse não to conseguindo desatar, afe!
Além de não ter neurônio para falar a bendita língua, tenho uma súbita timidez em tentar. Travo, paraliso. Eu, a faceira do bairro, de repente calo a boca. Não sai nada. Silêncio ensurdecedor. Minha mente não consegue lembrar uma palavra sequer. Aliás, é minha única oportunidade de limpar a mente, quase uma meditação. Infelizmente no timing totalmente errado. Não é hora pra isso! Muito embora pra quem seja uma falante compulsiva, talvez eu deva aproveitar mais o momento, dar uma pausa. Mas também não é hora pra isso, pois estou prestes a travar um pretenso diálogo com um gringo.
Acompanhe a situação constrangedora. Ele olhando pra mim e eu olhando pra ele. Momento de pura tensão, suor escorrendo na testa, garganta seca. Está na cara que um de nós vai ter que falar. O lugar fica extremamente claustrofóbico, vai cada vez apertando mais, o país está pequeno para nós dois... Cadê minha habilidade número dois desdoceu??
Respiração puxada do dedão do pé e me encho de coragem. Risinho nervoso, cara de inteligente e de pau. Pronto! O mínimo sai e imediatamente vira piada. Não sei o que acontece, mas baixa uma torre de babel e incorporo uma personagem de hospício e misturo espanhol, italiano, inglês, português e sinais de mímica, claro. Para mim, esta sim, a linguagem universal. Agora não pense que sei espanhol, é portunhol, sem dúvidas. Italiano? Aprendi com as novelas Terra Nostra e Passione. É vero, juro! Desencavo um sotaque macarrônico cruzando o italiano com o inglês e espero do fundo da alma que o interlocutor entenda! Atá!
Rola uma dancinha gingada de mímica e disparo os sinais com as mãos: vamos lá, quatro palavras! A primeira é, vou cortar, olha a sílaba! É filme? Comédia ou romance? Porca miséria, não! Eu só queria saber onde é o toalete... Embate perdido! Um a zero pra ele. Manda chamar o Pablo ou a Juanita do fundo da loja para entender essa louca. Humilhação total!
Acumulo sufocos dignos de zorra total no estrangeiro. A minha lista está capenga, só prestam treze itens. Meu caso é triste, ainda bem que o português salva! E Jesus Cristo também! Vai um espaguete aí?

domingo, 6 de outubro de 2013

Rotina na primavera


                Levantar cedo, estar alerta e esperta. Acordar a criança com carinho e beijinhos. E de quebra escutar um bom dia bem mal humorado, afinal é cedo demais. Tudo bem, essa parte a gente não dá bola! Abrir as cortinas e encontrar um lindo dia de sol. É primavera! Tempo de recomeço, renascimento da natureza. Adoooro!
                Repare como a rotina fica muito mais legal na primavera. Tem outro astral, tem outra cor e peso. Faço parte de um grupo que gosta muito de rotina. Mentira! Nem sei se existe tal grupo!! Talvez eu esteja só, aliás, nunca ouvi alguém compartilhar deste gosto... Mas, o fato é que confesso: sempre gostei de rotina! E minha casa é uma caserna, e a general aqui, mantém a ordem e o progresso, é claro, na base da disciplina! Um, dois, feijão com arroz! Aqui só faltam marchar! Até o cachorro!
                Eu defendo a rotina por acreditar que organização é tudo. Interna então, nem se fala!  E ter rotina na vida é garantia de calma, tranquilidade e segurança. Pense, se é possível fazer as coisas iguais todos os dias, fica fácil manter tudo sob controle. Tá, mas obsessão tem limite, e sair da zona de conforto e dar de cara com o imprevisto está no projeto! Inclusive, sou especialista em administrar conflitos e crises. Pode-se dizer que estou apta a trabalhar em Washington DC, na sede do governo americano.
                Não conheço mãe que não esteja! Estamos todas prontas para encarar qualquer sírio ou iraniano! Nossos pequenos rebeldes nos credenciam para isso! Camarada, correr para dar conta de nossa rotina, não é para qualquer um! Definitivamente! Apito e cronômetro na mão e partiu o dia! E a rotina é nossa aliada, nossa força tarefa, que faz com que nossos soldadinhos de chumbo entendam que existem as responsabilidades e os compromissos. Eles precisam aprender a respeitar horários, cumprir tarefas, deveres, ter metas e objetivos. E tem mais, no nosso quartel general não tem essa de começar as coisas e parar. Temos que ir até o fim, nada de moleza. Não vai dar conta? Pede pra sair! Eu sou o capitão Nascimento do dia-a-dia!
                Agora, fazer tudo isso nesta estação tem outro sabor. Viva a rotina na primavera! Parece que ao abrir a cortina e encontrar um dia tão lindo vai garantir o dia perfeito. Redondinho, sincronizado e encaixadinho. E mesmo que não o seja, vai chegar bem pertinho do sonho com mais passarinhos, mais flores, cores e beleza. O ritmo é de alegria orquestrada pelo tempo. O riso vem mais fácil e o bom humor também. Impossível não curtir e não acordar com a cara da felicidade.
                Pena que toda essa parte que eu escrevi sobre a primavera, sol, dia lindo e coisa e tal, seja fruto da minha imaginação! Te peguei! Infelizmente a primavera ainda não deu as caras na cidade onde eu moro! Gente, aqui só chove. Faz tempo que o astro rei não aparece. E a natureza ainda nem percebeu que a estação já mudou! Bem que eu queria que tudo fosse verídico, mas é pura ficção. Essa é a novela da minha vida.
Desculpe amigo, eu não queria enganá-lo, estou apenas usando a força do meu pensamento e das palavras para quem sabe atrair o sol e toda essa energia bacana que descrevi. Aquele papinho de atração do universo sabe? Me agarrei na esperança, entende? Foi apenas um recurso. Por aqui estamos bem precisados. Tô recorrendo a tudo, tipo desespero. E sem querer desmerecer minha cidade, mas se fosse Londres até, quem sabe, um chazinho das cinco resolveria a situação. Mas não, aqui tem que encarar o bom pingado para aquecer. Porque para completar o clima, tá fresquinho ainda.
                A parte da rotina é toda verdade e que o outro QG da cidade é aqui na nossa casa também. Pobre dos meus soldados. E também é verdade que eu acordaria muito mais feliz se encontrasse a primavera pela janela, isso com certeza. Estou doidinha para exercer todo meu poder e minha liderança na primavera. Para falar a verdade eu só quero levar minha calma vida com sol. Só isso.
                PS.: Chama o Tim Maia: Trago essa rosa para te dar, meu amor! Hoje o sol está tão lindo! Sai chuva! É primavera!
                Ontem ele apareceu, quis me mostrar que ainda vive, ainda é o maior e o máximo do alto astral! Valeu São Pedro! Toca aqui!!

domingo, 29 de setembro de 2013

Tempo


O que acontece no mundo, porque a pressa? Entendo que as coisas hoje em dia se justificam na correria. Todos temos muito o que fazer, sem tempo a perder e pouco tempo para viver. Tempo, tempo, tempo. Ouço muito as pessoas reclamarem de que ele está rápido, passa depressa. Os anos voam e nós vamos voando junto. Muitas vezes sem mesmo saber pra onde, mas deixa prá lá. Vambora!
São compromissos, responsabilidades, rotina, agenda, vai-e-vem, prazos, dead lines.  Não conheço quem não se questione sobre a rapidez com que tudo tem acontecido. Já ouvi teorias baseadas na física quântica, na relatividade e até mesmo na filosofia, para tentar explicar o porquê desta sensação de velocidade. Mas, cá entre nós, estamos provocando os ponteiros do relógio com deboche e ironia. E não sei se Sócrates ou Platão entenderiam. Só sei que eu não entendo!
Corremos o dia todo, a semana toda e o mês inteiro para ao final encher a boca e dizer: o fim do ano chegou! Já reparou como gostamos de concluir que fechamos um ano e declarar que o final do ano está aí? Incompreensível. Seria este nosso troféu? Seria a conclusão perfeita de uma maratona? Nossa linha de chegada, a finalização. E sem sentir, talvez sem querer, estamos provocando esta pressa de que tanto nos queixamos. Refletindo sobre o tema, perceba que inconscientemente aceleramos os anos cada vez mais, para chegarmos sãos e salvos ao pódio.
Nossa folhinha está diminuindo cada vez mais. Alguém me responde: por que em pleno mês de setembro já tem artigos natalinos à venda? Por que já dei de cara com pinheiro de Natal e luzes pisca-pisca? Qual o motivo de antecipar a festa deste jeito? Ano passado reparei que o clima apareceu somente lá pela segunda quinzena de outubro, pois agora o Dia das Crianças foi atropelado na maior cara de pau!! Como assim? Oi?
Que ansiedade é essa que faz com que apressem o Natal desse jeito. Definitivamente por que antecipar assim? Não sei você, mas eu me sinto arrasada. Dar de cara com o Papai Noel antes de dezembro é muita pressão. A figura dele em setembro me faz sentir um atraso. Tipo, eu não dei conta do ano! Já chegou o Natal e eu não dei conta! Só que a culpa não é só minha, é nossa. É com nossa conivência absoluta.
Permitimos. Damos autorização. Fazemos pior, vamos lá e compramos uma lista de presentes. Reclamamos, reclamamos, mas bem que gostamos de anunciar o final do ano. Planejamos as férias, organizamos a ceia, pensamos na festa e fechamos a conta. Estamos malucos! Nós estamos fazendo o tempo voar, vivendo sempre com um pé no futuro. Sabe, honestamente, o que parece? A cenourinha na frente do burrico. E nós feito loucos, tentando alcançá-la. Lamento informar, mas não conseguiremos nunca, ela sempre estará na frente. E enquanto isso, fazemos a terra acelerar.
 Que tal tentar viver o hoje, o agora, o momento? No máximo, pensar no almoço do próximo domingo e não no tempero do peru assado. Garanto que nem ele está preocupado ainda com o Natal, afinal, ele só vai ficar apreensivo na véspera. Não é isso que dizem? Daqui a pouco sem nos darmos conta, vamos riscar setembro, outubro e novembro do calendário e talvez emendar dezembro com a Páscoa e juntar de vez o Coelhinho com o Papai Noel! Não acho que terá a menor graça. E garanto que as crianças também não vão achar.
Não quero mais isso, não quero me sentir atrasada! Eu não estou! Acabamos de entrar na primavera povo! Quero aprender a viver, quero evoluir e crescer, mudar minha postura e melhorar. Prometo que vou tentar cruzar a minha linha de chegada ao final de cada dia. Viver um bom dia, cumprir de maneira bem bacana ao que me proponho ao colocar o pé no chão naquela manhã. Respirar calmamente. E no final, depois de ter sido uma pessoa legal, encontrar a família com sorriso no rosto e correr pro abraço. Comemorar o primeiro lugar todos os dias! A gente não precisa de teorias científicas para explicar o tempo, a gente precisa de poesia.
Aproveitando o meu tempo, assisti um desenho da Mônica com minha filha e aprendi uma lição: faça o tempo, mude o tempo e não esqueça que o tempo tem o tempo que tem que ter.

domingo, 22 de setembro de 2013

Não temos wifi


Tenho me perguntado qual o futuro da comunicação das relações. Onde vamos chegar, como vai ser e o que nos espera na próxima esquina, digo, milênio. Em termos de tecnologia vejo que caminhamos a passos largos, e que passos, porque a geração que vem por aí já está com um chip embutido sei lá onde, pois é praticamente uma mistura de Steve Jobs com Einstein. Deus, geramos mini gênios! Por essa, Stanley Kubrick não imaginava. Meus questionamentos são sobre o olho no olho.
No meu manual de instruções de vida, praticado há anos na minha família, coisa de herança mesmo, sabe? Passado de mãe para filha, coisa séria. Pois bem, nessa cartilha a conversa faz parte dos relacionamentos, sejam eles quais forem. Um papo aberto no pé da orelha com um filho, amigo ou parceiro é tão importante quanto à conversa com o cachorro de estimação ou o chefe. O importante é conversar pessoalmente, de corpo presente e cabeça principalmente. Porque cá pra nós, o que tem de gente que faz figuração de si mesmo, não tá no mapa, né? Nem no Google maps! Só pra ficar na seara moderna e tecnológica atual!!
Minha preocupação se baseia em cenas cotidianas que tenho, infelizmente, diga-se de passagem, assistido. E eu falei no plural, atentem! Famílias sentadas à mesa de algum restaurante sem dar um pio, nem grunhido nem nada. Diálogo então nem pensar! Sabe aquela coisa antiquada de um fala e o outro responde? É isso. Ou era. Pois agora é assim: cada membro com um celular na mão em estado de pura concentração e foco – no aparelho! Silêncio perturbador. E comida fria, muito provavelmente!
Acho deprimente, acho um prejuízo de tempo e de dinheiro também, porque não. Se for para ficar grudado no telefone, fiquem em casa e façam um macarrão instantâneo, ora bolas. Mas essa não é a pior parte, para mim é a falta de assunto mesmo. As pessoas estão deixando a intimidade de lado para verificar email, mandar mensagens e dar uma olhada nas últimas notícias das redes sociais.
O que é isso companheiro? O que vai acontecer com os relacionamentos? Essa mudança de prioridades me preocupa muito. Rolar o dedo na telinha do telefone acabou tomando lugar do contato entre as pessoas, do encontro. Imagino que as relações serão seriamente comprometidas. Desde quando o celular passou a ocupar esse espaço sagrado do olhar, da voz, da intenção? Eu perdi esse bonde, definitivamente. Ainda bem.
A vida já é tão corrida com tantos afazeres, as famílias são tão compromissadas e, mesmo assim, as pessoas não se dão conta da vantagem e do privilégio de encontrar-se em uma mesa de refeições. Uma mesa familiar é tudo! Metaforicamente dá para afirmar que a vida passa pela mesa. Entre uma garfada, um café ou um soco todas as emoções estão naquela mesa. E naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele dói demais em mim. O poeta só não podia prever que seria praticamente uma mãe Diná e o “ele”, no caso, seria o papo. E papo vai, papo vem... papo foi. Acabou.
 Saudades de uma boa família italiana de filme, daquelas em que todos gritam, brigam e gesticulam muito diante de uma macarronada da mama. Cartas na mesa, sempre, mesmo que seja dentro de um estabelecimento comercial, grande coisa, quem se importa. A cena agora é entrar no restaurante e antes de tudo verificar se tem wireless. Muito mais necessário que bom cardápio é estar conectado à rede. Preço? Quem se interessa?! Tem novidades para contar? Vá ler na mensagem, manda por DM ou uatesápe. Corra Lola, corra, que o mundo mudou.
Mas minha família não. E meus amigos também. Todos somos uma grande máfia da boa conversa à mesa. E já vou logo avisando aos navegantes, que aqui não tem wifi, conversem. Ah! E deixem seus celulares na porta de entrada. Não sou besta, vai que tem três G! Apelo: por favor, não troquem suas relações por um blequebéuri!

domingo, 15 de setembro de 2013

Idade


Tenho falado aqui sobre todos os dissabores da idade. É falta de memória, modificações no corpo e as crises existenciais, tudo provocado pelo avanço dos anos. Pode parecer que, portanto, amadurecer (reparou que não usei o verbo envelhecer?) é um problemão! Até pode ser. Mas é uma benção também, e das grandes. Como tudo na vida, depende do prisma em que você olha. Como resolvi virar Polyana, to me sentindo ótima!
Tenho percebido sobre o quão libertadora é a idade que chega. Ganhamos uma liberdade que quando jovens não temos, não imaginamos e nem sonhamos. Olho através de uma simples equação: quanto mais idade se tem, menos vergonha se sente! E que fique claro, claríssimo, não me tornei uma sem-vergonha! Óbvio que não! Não pense bobagem! Mas ganhei espontaneidade, coragem e muita vontade para fazer o que quero e dizer o que sinto, mas com muita sensatez!
Hoje posso entrar no supermercado com minha filha pela mão e se estiver tocando uma música animada, ensaiar uns passos para alegrá-la! Se já fiz isso? Sim, com certeza! Mas não pense que bailei pelos corredores entre o açougue, as verduras e legumes, nada disso. Não, não baixou à louca, nem a pomba-gira, nem o Fred Astaire. Também não estou treinando para a dança das desconhecidas (não sou famosa nem na vizinhança). Foi só um pequeno momento de descontração para brincar com minha menina. Detalhes de nossa relação que passam pela leveza e simplicidade. Afeto.
Hoje não tenho o menor problema em gritar meus direitos se me sentir lesada, berro se necessário e mando chamar o gerente, seja onde for. Os problemas passaram a ter o valor correspondente à realidade. E o sofrimento por antecipação ficou na juventude - do ano passado, para ser mais honesta. Usando respeito e educação, posso dizer o que penso para quem antes não poderia. Não sou obrigada a cumprir certos protocolos sociais se eu não quiser. Mas para falar a verdade, quase sempre quero. Sou arroz de festa declarada.
Só a idade me deu a chance de flertar com o King Kong, os micos eu deixo para os jovens. Não tenho vergonha nenhuma de fazer o que minha telha está mandando. Não tenho medo dos julgamentos do olhar do outro. Garanto que minha vida ganhou uma cor que antigamente não tinha. Um poder de chegar bem mais pertinho da alegria. Porque a liberdade encurta esse caminho. Estou livre para pensar, livre para fazer e dizer. A idade amadurece e clareia a mente. Um mundo novinho se abriu. Acredito até que as possibilidades aumentaram. Inclusive de mudança. Mudança de pensamento, de opinião e de conduta. Podemos mais, muito mais. Podemos quase tudo, quase sempre.
Agora se minha filha gosta de me ver fazendo a Ana Botafogo pelas gôndolas do supermercado, aí são outros quinhentos! Ela ainda está na fase da vergonha! Já me disse com todas as letras, que eu não preciso ser a primeira a bater palmas no teatro!! Mas sei que esse sentimento passa, porque já vivi isto em outros tempos! E sei que em breve, não tão breve assim, bota mais uns aninhos, nós faremos muitas macacadas juntas pela vida! Seremos uma dupla do barulho! Vai ser tão bom! E assim a vida vai completando os seus ciclos. Tem como não achar a idade bela?

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Problemas Modernos


Que tempos difíceis esses em que vivemos. Carregamos tantos problemas ditos modernos que perdemos completamente o verdadeiro valor das coisas. Desde quando a empregada não vir trabalhar virou tragédia familiar, ou melhor, nacional? O ser humano de hoje não sabe mensurar, muito menos definir um verdadeiro problema e reclama, reclama, reclama.
Na verdade acho que nunca existiu problema moderno. O que seria isso? Problema que vem em versão sete ponto três? Problema “Ai” alguma coisa? O que existe é problema e ponto! O mundo ficou moderno, as dificuldades não. E nós também não. De modernos temos pouco. Aliás, nos expomos nas mídias sociais, mas não conseguimos desenvolver a mesma evolução na arte de resolver nossa vida!
            Aprendemos outros meios de contar, mostrar, viver, e passar por nossas mazelas. Que mudam, ok, mudam, mas sempre existiram em todos os tempos, qualquer época, moderna ou passada. Já estava na hora de nós, animais pensantes e inteligentes que somos, termos aprendido alguma lição. Mas, nada, tá dureza resolver, é drama na veia!
Desde quando morávamos nas cavernas, vivenciamos situações de conflito. E imaginar que nossos problemas modernos já foram sermos arrastados pelos cabelos para dentro do cafofo uga-uga. Se bem que isso era prá lá de romântico! Não era exatamente um problema. Tá, então problema era um ataque de mamutes. Ui, esse devia ser dos grandes!
No século 19, o grande problema moderno eram aqueles vestidões: muitas saias! Afe! Não dá para imaginar a Moreninha ou a Capitu - trabalhadas na última moda - apertadas para irem ao banheiro! Gente, vamos ser honestos? Será que dava tempo de tirar tudo?!!  E nesses anos dois mil, a pouca saia pode ser problema pra muita gente também! Ou a falta dela. Mas daí, não é problema nosso e desse, dizem, ser o mais antigo do mundo. Definitivamente não é moderno! E nada mudou.
O fato é que cada problema, moderno ou não, tem que ter seu real valor! Sempre bato na mesma tecla, para ver se também entra na minha caixola... Mas o carteiro está em greve? Paciência! O filho não fez a tarefa de casa e está matando aula? Dá uns cascudos nele! A empregada não veio? Arregaça as mangas e segura no cabo da vassoura! É colega, a vida não é bolinho, mas nunca foi mesmo! Será que em mil e quatrocentos Colombo esbravejou ou foi ameaçado de ser demitido por não ter encontrado o caminho das Índias? Ou comemorou achando as índias, lindas, leves e soltas e fez a primeira festa na América?! Vai ver o cara adorou ter errado o caminho e fez uma limonada e tanto! E aqui estamos todos nós para não deixarmos ele mentir!
Poderia agora citar o que são problemas reais, de alto valor e carga emocionais, daqueles que precisaríamos da cavalaria americana para nos salvar, daqueles pesados, de causar choros convulsivos, tipo mexicano mesmo. Sim, eu sei que eles existem, todos sabemos. Mas pra que né? Deixa que o secretário geral da ONU se preocupe com os detalhes sórdidos... Já vai bastar se conseguirmos aprender a diferenciar, rotular, taxar, calcular e mensurar os reveses da vida. Todos muito bem classificados, de preferência em ordem de desespero. Numa escala de zero a dez. A escala Richter dos problemas.
Bom humor! Arrá!! É o pulo do gato! Mas que tal levar a vida com bom humor? Esse é um bom instrumento para ser usado na avaliação dos problemas. Leveza na vida! Que mal há em fazer a Polyana? E por que não? Garanto que tudo vai facilitar, e muito. Um sorriso, um riso e uma gargalhada, uma trinca que, se não é a solução para os problemas, ajuda, aaa se ajuda. Que mania que temos de pesar a mão e a dose. E haja saco, pra aguentar a dose.
Tá com comida na mesa? Gozando de boa saúde? Então tá reclamando de que? Tem família, amigos para ajudar? Então não tem problema que valha a longa chatice das reclamações.  Sejamos velhos, moços, antigos ou modernos precisamos repensar! Estamos todos tão cosmopolitas, tão web alguma coisa, tão feice, tuíter, e mais um monte de saiber atualidades, que não é possível que ainda não tenhamos conseguido ser mais tranquilos em busca da paz para aproveitar a vida. Afinal, estamos no mundo moderno.
Atenção ao horóscopo: dia ideal para se livrar das coisas velhas para que possamos seguir mais leve. Ideal também para tratamentos de desintoxicação em geral, tô falando de ranzinzices. Teremos bons resultados, mas sem esquecer de rir muito e relaxar para repor as energias, boas, é claro. A lua linda e prateada e o sol quente e brilhante favorecem o prazer e as emoções. O pensamento positivo afetará sua mente e vamos viver felizes! O ministério da boa vida adverte: classifique e mensure seus problemas!
 

sábado, 7 de setembro de 2013

As Bolachas


Li numa revista que os discos LPs estão de volta. Quer dizer, de volta, de volta, não, mas ensaiando uma discretíssima volta através de apreciadores, colecionadores e até alguns fabricantes. Agora sim, ficou bem explicado. Somos nostálgicos mesmo. Ô povo! Na minha casa, mesmo sem aparelho para tocá-los, não nos desfizemos de nenhum disco de vinil. Estão todos lá, cada qual com sua história.
Minha memória pode não ser grande coisa, e não é, mas não me esqueço de como eram os long plays. Músicas dos dois lados divididas em várias faixas. Quando acabava um lado, tínhamos que parar o toca-discos e virar o disco, para tocar as faixas do lado oposto. Lado A e B. Grandes, enormes e pretos, salvo alguns infantis que inovavam em trabalhar na cor, todos eram pretinhos da silva. E sempre tinham aquele plástico para protegê-los.
Lembram como era necessária muita habilidade manual com a agulha? Quase cirúrgica! Crianças eram proibidas de chegar perto da eletrola, poderiam estragar o artefato ou arranhar o disco. Vem daí a expressão “disco arranhado” para aqueles que repetem, repetem, repetem a ladainha, como as músicas de um disco riscado que ficavam inaudíveis. O cuidado era bem extremado, mãos seguras, firmes e, ao mesmo tempo, delicadas! Ouso a dizer, carinhosas.
Veio agora na minha mente os aparelhos três em um: toca-discos, toca-fitas e rádio!!! Todas essas máquinas numa só! Caixas de som grandonas e potentes que mais pareciam um trio elétrico! Show! Eram sinônimos de riqueza pura! Podem acreditar. E pensar que o vinil já foi o máximo da tecnologia! Chocada.
Na minha família adquirir um disco era um evento. Sentávamos na sala para apreciar o artista e a capa passava de mão em mão. Não raro alguém pegava o encarte com as letras das músicas e cantarolava junto com a Maria Bethânia ou Vinicius de Moraes. Toda minha educação musical foi feita através das imensas bolachas, como também chamávamos aqueles discos pretos. Será que em referência as bolachas Maria, pelo formato? Pode ser, não sei. Vou pesquisar no Google e depois te conto.
Mas bem sei que as bolachas me alimentavam com o que tinha de melhor da boa música e das artes visuais. Estou falando das capas! Nesta época, a dos vinis, muitas capas foram produzidas por artistas plásticos. Não é difícil encontrar uma roda de conversa com a turma do passado, falando nas clássicas capas. Até mesmo o expoente da Pop Art, Andy Warhol, fez uma! Um luxo! E as dos Beatles? Sgt. Pepper’s, Revolver, lindas! Pink Floyd com The Dark Side of the Moon fez história! Existem listas de capas icônicas.
Definitivamente os LPs tinham outra alma. Pode até ser que eu tenha perdido o último trem para Woodstock, ou no caso Rock in Rio 1985 já que faz mais sentido, porque no outro eu nem tinha nascido, mas o fato é que a vida é feita de boas lembranças. Boas, muito boas. Memória afetiva é coisa séria. Saudades deste tempo em que os discos significavam mais que simplesmente sentar-se no computador e baixar uma centena de músicas sem esse algo mais. Também sei que é assim que caminha a humanidade, mas como um pendrive pode competir com uma capa? É covardia.
Com o vinil era outra relação, mais pessoal, mais íntima. E esses anos de pirataria então? Chega dar vergonha ver uma capa xerocada com a qualidade mais do que duvidosa, horrorosa! Fico muito feliz em saber que existam heróis da resistência ressuscitando as bolachas. Agora preciso urgente arranjar uma eletrola e quem sabe marcar uma reunião dançante na garagem! Bora fuçar o baú e limpar as teias e as traças!

domingo, 1 de setembro de 2013

O Respeito não mora ao lado


O respeito tá ficando fora de moda. Definitivamente não entrou na última semana fashion muito menos na coleção primavera verão dois mil e bolinha. Está muito difícil encontrá-lo desfilando nas passarelas. Agora, o egoísmo, esse é o must da temporada!! E faz tempo...
Olhar só para si, se preocupar com o próprio bem estar, seu umbigo e seu universo, egocentrismo, é assim que vivemos hoje. Não tem como dar certo. Impossível! Somos seres sociais. Precisamos compartilhar até as vagas de estacionamento dos shoppings, mas tem gente que insiste em achar que é a última bolachinha do pacote. Sabe aquela ideia de que mora numa ilha e vive só?
Temos vizinhos. Quase todo mundo tem, a não ser aqueles que moram no meio do mato ou optaram por um estilo leave me alone de ser. Todos são obrigados a conviver com alguém do lado, quando não em cima ou embaixo. Que relação mais complicada. Não conheço quem não tenha uma história para contar e, infelizmente, nem sempre passa pelo respeito.
Outro dia, amigos contaram que a vizinha de cima só anda de saltinho! Já imaginaram que beleza acordar e tec, tec, tec! Almoçar e tec, tec, tec! Ler o jornal e tec, tec, tec! E assistir ao Bonner e a Patrícia Poeta e tec, tec, tec!! Geeeente eu teria enxaqueca para o resto da vida! Interminável! Minha amiga avisou à chiquérrima, que ela deveria andar de pantufas para o bem do condomínio. É ou não falta de respeito? Poxa, vivemos em comunidade! Saltinho, moça, tem certeza?
E se os vizinhos dão trabalho, imaginem seus animais de estimação? Às vezes os donos não são educados, o que esperar de seus pets!!? É um tal de latidos de cachorros chatos, gatos que passeiam por casas alheias, isso sem falar nas cácas! Sim, porque tem gente que teima em não juntar os presentinhos que seus animais deixam por aí. O que me indigna é o fato de pensar que esse povo acha que temos que gostar. Se eles aturam o latido insuportável às seis da manhã de seu cachorrinho, por que eu tenho que aguentar? Quem disse que gosto de ser acordada desta maneira? E às seis da manhã? Puxado!
Conhece alguma coisa mais pessoal que o seu lixo? Sim, o lixo, aquele que, segundo os filmes de detetives denunciam todos nossos gostos particulares e ainda por cima dizem quem somos e com quem andamos! Pois minha colega teve seu sagrado lixo remexido pela vizinha!! Acredite se quiser, mas é a mais pura verdade! E além de ter todos os seus segredos descobertos, a meliante, quer dizer, a vizinha levou uma bandeja quebrada que minha colega tinha posto fora!! Pra que meu Deus? O que a criatura faria com um treco quebrado? Necessidade ou caso de polícia?
Se vamos ser vizinhos, vamos respeitar os limites. Limites da boa educação, do bom convívio e de liberdade. Sabe aquela máxima, minha liberdade termina onde começa a sua, e blá, blá, blá! Certíssima! Chavões e clichês são ótimos para pautar nossa vida! Tá com dificuldades de entendimento puxa um clichê! Ou quer que desenhe?? Respeite para ser respeitado. Bom senso amigos!
Agora veja você, que o Bob Marley se mudou para a casa ao lado da minha, tá queimando mato e não tá nem aí se o cheirinho tá chegando aqui no meu nariz! Fazer o que? Baseado (perdão pelo trocadilho!) no nosso bem viver: eu respeito! No, woman no cry!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A Memória ou meu Ia-iá, meu Io-iô


                 O cérebro é uma grande máquina perfeita. Mentira! Bem, pelo menos no meu caso! Meus miolos nunca chegaram perto desta denominação, infelizmente nunca fiz parte da estatística desta supermáquina. Cheguei à conclusão que não tenho mais memória, no máximo uma vaga lembrança...
                Leio muitos livros e não consigo lembrar os títulos, só os autores, e assim mesmo só os nacionais, porque se colocar uns Y ou uns K, não sei de quem se trata. Vejo filmes e também não lembro os nomes. E os atores, então? Fica aquela agonia: é aquele que fez, aquela que participou, aquele, aquela, não adianta os nomes não me veem a cabeça.
                No setor comidas e rotina minha memória também tem se mostrado um fracasso. Se eu fizer o exercício de citar o cardápio comido da semana anterior, vai ficar na tentativa, só na vontade. Ferrou. Esqueço, esqueço, esqueço. Não lembro as refeições feitas na minha própria casa! E na rotina, se não fizer todo dia tudo sempre igual, periga eu esquecer o cachorro na Pet para sempre!! Pro resto da vida!!
                Agora, o máximo da situação memória-constrangedora é encontrar aquele amigo de escola e nem de perto saber o nome da criatura. O pior é a pessoa perceber e eu, além de ter a relação abalada, passar recibo de gagá! Atenção! Informe público: não me convidem para festa de 30 anos de formatura! A não ser, cara colega, que sua memória esteja no mesmo nível que a minha. Se for o caso, imagino que a festa será divertidíssima!!
                Eu me pergunto o que teria acontecido com meu cérebro. Teriam sido as escovas progressivas feitas ao longo da vida? Eu sabia que um dia o excesso de formol mandaria a conta! Mas na hora eu pensei que iria demorar! E entre o picumã desgrenhado, a vaidade e a burrice escolhi os dois primeiros! Eu sei, agora você está aí pensando “burra já era né?!” Talvez até fosse, mas o cabelo era uma beleza, praticamente uma japonesa loira! E não tem o que pague um cabelo domado!
 Depois teve a fase da gravidez, que todas as mulheres, mães, sabem que entregamos de bandeja nossos neurônios para nossos rebentos que estão sendo gerados. To achando que entreguei e não recebi nenhum de volta! Comunhão total de bens. Eu esqueci a bolsa no banheiro do shopping center, esqueci na rua todas as sombrinhas que tinha, mesmo com chuva na minha cara, e esqueci o carro aberto no estacionamento do supermercado! Eu grávida fui um perigo para a humanidade! Onde foram parar meus neurônios? Pelo menos minha filha é um orgulho de inteligente. Já a mãe...
Talvez seja a idade, de novo. Anos passaram, usei demais a cabeça e guardei tantas coisas que agora meu HD resolveu dar pau! Minha máquina achou que tem que selecionar tudo e fico pagando mico atrás de mico perante a sociedade! Ganhou vida própria e só memoriza o que convém. E não adianta que nunca vou entender os critérios desta edição editorial de fatos e nomes. Vai entender!! Quem vai me explicar porque não tem Cristo que me faça descobrir em quem votei para vereador nas últimas eleições?!! Que candidato era esse meu Deus do céu?! Quer saber a última? To sofrendo tanto: faz dias que quero lembrar uma música do Chico e só me vem o Wando na cabeça!!! Você é luz, é raio, estrela e luar!

sábado, 24 de agosto de 2013

Roupa Nova



            Reparou na roupa nova do blog? Eu achei linda! E cá pra nós, ganhar roupa nova é um luxo só, não é?! Eu como boa mulherzinha, amo! Tô me achando a rainha da cocada! Sabe quem foi a ilustradora? A querida Aline, uma super profissional e blogueira lá do http://artefinalizando.blogspot.com.br/ ! Vai lá conhecer o trabalho dela! Recomendo!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Satisfação


Caro leitor, se você chegou a este blog, percebeu que não há em canto algum, nem embaixo, nem em cima, lado direito, lado esquerdo, muito menos pictografado, um link, unzinho, pequenininho que seja, chamando para qualquer rede social que você está acostumado a usar! Pegadinha? Não amigo, juro que não, apenas uma jornalista na contramão! Atualmente sou uma infratora, estou no sentido totalmente proibido. Desculpe.
Não adianta que você não vai me convencer do contrário. Os dinossauros são velhos e turrões, tá aí sua extinção que não me deixa mentir. Teimosia é meu nome do meio. Nada contra, mas nada a favor. E não pensem que é fácil ser uma marginalizada na sociedade em que vivemos. To sofrendo horrores de discriminação, pensando em terapia e re hab! Mas gente, não consigo chegar perto do tal feice!
A aflição é por conta do mexerico. No meu código de honra e de ética, fuçar na vida alheia, mesmo que com total permissão, é fofoca!! Eu sei que é essa a função do feice, não atirem pedras no dinossauro!! É uma sensação, o que há de se fazer! Se me pegarem olhando a página da vizinha, vendo as fotos do seu final de semana no hotel fazenda, vão dizer que é fofoca! Foi ela quem mandou e que publicou, eu sei, mas sou eu quem estou olhando! Mesmo com consentimento, reparar até no seu modelito rural me causaria constrangimento!!! Parece que estou mexericando!
E o tuíter então? Eu, a pessoa mais prolixa que conheço, escrevendo em 140 caracteres? Você já reparou o quanto escrevo? Quantas laudas tem cada crônica? Minhas histórias não são resumidas, definitivamente não. Estou mais para a barsa ou lelo universal do que qualquer síntese tecnológica!!
A turma que usa de maneira séria, bacana, agora está gritando, mas eu não saberia olhar sem me sentir no biguibroder, dando aquela espiadinha. A culpa é minha, só minha, assim como a ignorância e a imaturidade também. Sou eu quem não sabe lidar com o recurso das redes sociais. Já perdi até amizade por conta deste posicionamento. Tenho amiga que diz que estou na era da pedra polida. Querida, preste atenção: estou na lascada ainda!! E bem lascada porque, com certeza, na próxima vez em que nos encontrarmos, eu vou estar exposta no museu de história natural e você? Toda poderosa desfilando pelas webs da vida!

 

domingo, 18 de agosto de 2013

Procura-se


Engraçado, tenho passado algum tempo dos meus dias pensando muito sobre um assunto. Estou preocupada de verdade. Até com certo medo, eu diria. Já perdi o sono, pronto falei!!!
Se você tem lido o blog já sabe minha idade, então não tem problema em revelar que a insônia tem a ver com minha memória, minhas lembranças do passado. De minha infância, para ser mais clara. Estou tremendamente tensa, pois acredito que assisti à extinção de algumas espécies e isso significa, para mim, algumas das seguintes alternativas: (A) Estou muito velha e já vivenciando extinção de animais, um lance tipo dinossauros, destruição; (B) Existe um complô contra minha pessoa, porque ninguém comenta o extermínio; (C) Fiquei louca e a família não percebeu; (D) Estou vivendo num mundo paralelo; (E) Estou cega. Simples assim. Só eu não vejo tais animais e eles continuam andando por aí.
Vamos aos fatos. Quando eu era criança tinha medo, muito medo de um cachorro da raça doberman. Ele era de porte grande, fortíssimo e todo preto! Sabe cachorro do demo? Esse mesmo! Geeeeente até filme sobre esse doberman tinha. Se não me engano era O Ataque dos Dobermans e passava sempre na Sessão de Gala (ou seria na Sessão Coruja? Sei lá, são os Supercine do século passado). Um filme de terror que me fazia dormir tapada até o topo da cabeça, morta de medo. O tal cachorro era uma fera, tipo o avô dos pitbulls. Um perigo!!
Lembro também que essa raça foi coadjuvante de outro clássico do terror, A Profecia. Pra você ver que o carinha definitivamente era a encarnação do capeta no mundo canino, pode acreditar! Pois bem, cadê a criatura? Alguém viu? Alguém já ouviu falar? Viram ele andando por aí? Acabou. Sumiu como fumaça. Escafedeu-se. Nunca mais ouvi falar nos dobermans. Ficaram no passado da minha memória. Extinguiram-se ou saíram de linha, não fabricam mais.
Só para ficar no cinema de quatro patas: cadê a Lassie? Linda e loira, ela se aposentou? Cachorra maravilhosa, a Suzana Vieira das cachorras! Grande atriz!! Contracenou até com a Elizabeth Taylor e só perdeu o Oscar para aquele Pastor Alemão, o Rin-tin-tin! Minha heroína, forte e corajosa, todas as cadelas sonhavam em ser a Lassie. Então, por onde andam os collies? Raça totalmente do bem. A Lassie não deixou nenhum descendente? Pelo jeito não.
Também na minha infância, mas na praia, existiam uns bichinhos bem na beira, que beliscavam os pés da gente. Andavam debaixo da areia e saíam, cavando e subindo. Nas praias que eu frequentava no Rio Grande do Sul, eles chamavam tatuíra. Pareciam uns cascudos albinos, branquinhos, branquinhos. Tinham tantos tatuíras que se fossem comestíveis, dava para matar a fome na África. Vocês acreditam que nunca mais apareceu um só para contar a triste história? Sim, porque para terem sumido assim, só pode ter sido um meteoro, portanto um final prá lá de triste e trágico. Su-mi-ram, desapareceram! Os pezinhos de anjo das crianças nunca mais foram mordiscados.
E tem mais. Quando minha família passava o final de semana no interior, em lindas noites de verão, todas as crianças ganhavam caixinhas de fósforo para caçar vagalumes! Tirando a parte que enganavam brabo a criançada, porque cá pra nós, alguém já conseguiu pegar algum insetinho voador numa caixinha de fósforo?? Hoje eu bem sei que era só para dar ocupação para os pestinhas. Bem, caçar os vagalumes ninguém nunca conseguiu, mas eu os via. Eu e toda a torcida júnior do Internacional. Aquelas noites escuras, quentes e aqueles pontinhos de luz piscando bem na frente de nossos olhinhos infantis. E não é viagem na maionese. Eles estavam lá. Estavam. Pois também é outro caso de extinção.
Nunca mais vi os vagalumes, nunca mais vi tatuíras, os dobermans nem os collies. E estou quase certa de que os cachorros pequineses estão sumindo também. Quase posso garantir que eles serão os próximos...
                Ninguém vai fazer nada? Parem as máquinas! Chamem o Fantástico! Pessoal, eu estou bem preocupada porque estas coisas estão acontecendo bem na nossa frente. É algum tipo de conspiração? Seleção natural? Chacina? Atentado terrorista? Foi a gripe suína? Mistério instalado! Procura-se uma explicação. Ah! E se você quiser me ajudar nas alternativas acima, deixe seu comentário.