domingo, 13 de outubro de 2013

Língua estrangeira


Li num site de notícias uma pesquisa que listava quatorze habilidades que todos devemos ter. Coisas imprescindíveis saber para viver bem. E falar outro idioma estava lá em segundo lugar, perdendo apenas para cozinhar. Nadar em terceiro lugar, na frente de dirigir. Sinal vermelho para mim, ou seja, to ferrada! De cara me dei mal com a lista.
Ando muito desconfiada de que algumas pessoas são incompatíveis com língua estrangeira. Muito provavelmente tem gente que não se dá bem nem com a língua materna, o bom e velho português. Não só não se dá bem, como briga feio mesmo, tipo para sempre! Tem gente que comete crimes horríveis contra nossa herança portuguesa, mata sem dó nem piedade. Mas isso é assunto pra outra crônica. Ou uma tese, um livro, um catálogo telefônico. A coisa rende. Infelizmente.
Meu foco é outro. Por que diabos é tão difícil aprender inglês? Por que the book is on the table é a única coisa que sai de minha boca? Nem yes, nem no, afinal, como vou responder, se não sei o que perguntam? Minha teoria, baseada em décadas de observação entre pessoas de minha classe, categoria e nível (não estou sozinha), estudo sério e estatística comprovada por minha pessoa: tem algum problema conosco gente! Pode apostar que deve ter. Não é normal.
Algum furo na genética, só pode ser. Naquela espiral de DNA deve ter um cromossoma que indique que a pessoa não nasceu para exercer o idioma de Shakespeare. Nunca vai conseguir tocar os dentes com a ponta da língua e pronunciar mouth. É boca, tá?! Acho lindo! E olha que eu estudei bastante! Tentei cursinho, sem falar no inglês da escola. Sou aplicada, estudiosa, nerd e cdf. Mas o buraco é mais embaixo. É de saúde mental, não nasci pra coisa, simples assim. A tal espiral deve ter um nó. E esse não to conseguindo desatar, afe!
Além de não ter neurônio para falar a bendita língua, tenho uma súbita timidez em tentar. Travo, paraliso. Eu, a faceira do bairro, de repente calo a boca. Não sai nada. Silêncio ensurdecedor. Minha mente não consegue lembrar uma palavra sequer. Aliás, é minha única oportunidade de limpar a mente, quase uma meditação. Infelizmente no timing totalmente errado. Não é hora pra isso! Muito embora pra quem seja uma falante compulsiva, talvez eu deva aproveitar mais o momento, dar uma pausa. Mas também não é hora pra isso, pois estou prestes a travar um pretenso diálogo com um gringo.
Acompanhe a situação constrangedora. Ele olhando pra mim e eu olhando pra ele. Momento de pura tensão, suor escorrendo na testa, garganta seca. Está na cara que um de nós vai ter que falar. O lugar fica extremamente claustrofóbico, vai cada vez apertando mais, o país está pequeno para nós dois... Cadê minha habilidade número dois desdoceu??
Respiração puxada do dedão do pé e me encho de coragem. Risinho nervoso, cara de inteligente e de pau. Pronto! O mínimo sai e imediatamente vira piada. Não sei o que acontece, mas baixa uma torre de babel e incorporo uma personagem de hospício e misturo espanhol, italiano, inglês, português e sinais de mímica, claro. Para mim, esta sim, a linguagem universal. Agora não pense que sei espanhol, é portunhol, sem dúvidas. Italiano? Aprendi com as novelas Terra Nostra e Passione. É vero, juro! Desencavo um sotaque macarrônico cruzando o italiano com o inglês e espero do fundo da alma que o interlocutor entenda! Atá!
Rola uma dancinha gingada de mímica e disparo os sinais com as mãos: vamos lá, quatro palavras! A primeira é, vou cortar, olha a sílaba! É filme? Comédia ou romance? Porca miséria, não! Eu só queria saber onde é o toalete... Embate perdido! Um a zero pra ele. Manda chamar o Pablo ou a Juanita do fundo da loja para entender essa louca. Humilhação total!
Acumulo sufocos dignos de zorra total no estrangeiro. A minha lista está capenga, só prestam treze itens. Meu caso é triste, ainda bem que o português salva! E Jesus Cristo também! Vai um espaguete aí?

13 comentários:

  1. Dani, te dico que este tau de DNA, nem sombra passou perto de min KKKKKK..... .
    Amiga, cada semana vc.me surpreende mais, amei fico ma expectativa do proximo. Um grande beijo Giovana.

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    1. Tomara que você curta o próximo também!! Olha a minha responsabilidade! Kkkkk! Beijos!!

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  2. Amei e dei boas risadas! Acho que nao é problema de DNA e sim de bons professores. Lógico que nem todas as pessoas possuem ótima pronúncia, mas todos sao capazes de se comunicar. E quem precisa do ingles quando se tem um português nesse excelente nível?? E estou precisando de alguém para praticar, te candidata? Beijao, Mônica

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    1. Muito obrigada pelos elogios!! Fico super feliz que você tenha se divertido!Me ajuda no inglês? Help! Beijos!!

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  3. DANI, dei muitas risadas do teu comentário e, concordo plenamente com a leitora Mônica , não tiveste um bom professor , que te fizeste gostar do inglês, através de brincadeiras , músicas , enfim te cativar para o aprendizado desta.
    Entretanto, és uma das raras pessoas que escrevem com muita desenvoltura e, com um português impecável !!! Parabéns e, que continues nos atraindo com as tuas belas , atuais e inesperadas crônicas . Sou tua fã incondicional ! Bjs Beatriz

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  4. Super obrigada pelo comentário!! Aguarde as próximas crônicas! Beijos!!

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  5. Dani, fim do ano pede pra usar o pipiroom! rs
    Uns colegas de trabalho foram viajar e um cara contou que chegou no lugar e tentou em português. Não entenderam e ele disse: "Eu não speak, quem speak é o Dani. Daniiii, vem cá!" rsrs

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    1. Essa foi ótima! Parece piada!! E obrigada pela dica, muito boa! Beijos!!!

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  6. Muito,muito boa ,realmente a cada semana minha jornalista fica melhor. Acho que nao foste só tu que nao teve sorte com professor de inglês kkkkk entendeste? Nosso professor foi o mesmo te ammmmmmo Bj

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  7. Querida Dani, espero que estejas curtindo bastante o nordeste e, que consigas postar mais uma crônica na segunda ou terça feira .Bjs Vera

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  8. The best of de Best , arrasou , adorei e sabe que estamos no mesmo barco pra variar. Bjks. Doroty.

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    1. Com o nosso inglês essa canoa vai virar!! Kkkk! Beijos!!

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